22 de março de 2012

Svetlana Olen ¥ Cap. 35 – Curiosidade

   
Apesar de nossas eternas preocupações com os dedaleanos, fomos nos familiarizando e nos tornando uma nova cabala.

No Cray de Florença, fui me adaptando e criando informações e perfis daqueles que me cercavam. Fui aprendendo a descobrir não despertos simpáticos e outros nem tanto.


Todos magis tinham suas características e suas manias que deveriam ser respeitadas e mantidas. Contudo, havia um que me intrivaga: Heráclito de Creta.
Aquele ser tão medonho e grosseiro, tinha pensamentos grotescos aliados a certa leveza. 

Ele lia livros de filósofos famosos de sua terra, que explicavam e educavam o mundo. Para mim, tudo aquilo era muito chato e sem nexo. Mas mesmo assim, conseguia ficar concentrada no seu poder de envolver e acreditar naquelas letras engraçadas marcadas em um papel que outrora já foi uma árvore.

Ele vivia se mutilando, machucando como um cão sarnento que não suporta mais a coceira e se fere com seus dentes afiados. Fede como eles. Baba como eles. E consegue ser tão nojento quanto eles.



Até consigo entender o porquê desta minha curiosidade pela sua pessoa. Algo assim não seria compreendido pelo meu povo! Um magi que acredita na morte como adoração a uma roda em que tudo é a causa do destino, seria tachado de idiota ou louco.

A roda que gira está sendo guiada pela sua mão. É você que avisa quando vai parar! Você produz o início, meio e fim. É você quem dita as regras! É você quem vive! É você que deve viver! 



O acaso não faz nada. Apenas acontece quando não se tem uma opinião própria ou formada de qual é o seu objetivo!

Não consigo e nem conseguirei entendê-lo. 

Apesar de todos esses pontos totalmente divergentes, quando sentávamos, conseguíamos conversar sobre a nossa missão em comum e sermos capazes de produzir questionamentos reais e plausíveis, em busca da verdade.

Não sei bem dizer que ele é uma pessoa normal, mas é confiável. Afinal, temos muitas insanidades ocultadas em nós. Algumas um dia deverão sair. Outras nós a descobriremos... resta somente saber se é para o bem da vida, ou o mal que a devora.
  
  
  

3 comentários:

Filipe Larêdo disse...

Bravo!!! Adorei ler essas palavras sobre a impressão que a Svetlana tem do Heráclito.
Realmente não temos características comuns, pelo menos não aparentemente, mas nossa ligação é mais produnda do que podemos imaginar.
Afinal, como dizia o poeta: O segredo da vida é a morte...

Hugo Marcelo disse...

Grande Camila,

Postagem inspirada!! O facínio pela vida, tensionado ao seu extremo, se converte em veneração à morte...

Hugo Marcelo

dklautau disse...

Essa descrição sintetizou a relação entre eutanathos e verbena. Essa relação dos dois é um ritmo fundamental na cabala.