29 de setembro de 2009

Ambientação: Florença, 1401


Introdução: Florença. 1401.

Mas fui só eu, quando de feroz acerto,
Unânime, de destruir Florença,
Que defendê-la ousei de rosto aberto.”
Dante Alghieri, Inferno, Canto X, v. 91-93.

O renascimento está chegando. A música renascentista de Guilaume Du Fay mostra sua força misturando a tradição do canto gregoriano com sua sobriedade e reverência com a leveza do canto feminino da corte, com os instrumentos de alaúde, violinos e instrumentos de sopro. A polifonia vence a voz ritmada do coro gregoriano e do órgão. Esse símbolo musical também expressa a época, com a preservação de elementos culturais, políticos e econômicos da Idade média, mas com inovações e desafios necessários ao desenvolvimento humano.
Os quadros de Giotto mostram uma nova pintura, com novas cores misturadas com expressões mais humanas, mais detalhadas, mais específicas. A lente do observador se aproxima da humanidade, se desvinculando da totalidade divina predominante anteriormente. Os santos expressas nas figuras são mais humanos. Virgem Maria é representada brincando com o menino Jesus, enquanto São José trabalha em sua oficina. Esse símbolo da pintura expressa a época, com a preocupação do humanismo e do quotidiano, privilegiando o trabalho e as novas investigações nas áreas da natureza e da perspectiva, deslocando a pintura como uma representação da natureza de forma simétrica, e não apenas uma imagem desvinculada do real. A geometria e a ótica se tornam instrumentos da pintura, que busca agora apreender as formas tanto na natureza quanto na matemática.
A peste negra ainda está presente. Devastando a Europa, eliminando famílias inteiras, castelos, plantações e cidades. O medo da doença força o avanço da ciência. Alquimistas, médicos, farmacêuticos, curandeiros, herboristas são convocados para sistematizar e criar condições para a ação humana diante do alastramento da morte, da peste bubônica, das pneumonias, das infecções.
A arquitetura se renova, representando o desejo de novas construções sociais e novos horizontes. As catedrais dividem espaço com os palácios, com os mercados, com os prédios das famílias burguesas em suas orgulhosas construções. Médicis, Albizi, Pazzi são exemplos de banqueiros, mercadores e artesãos. O mercado está vivo, com seda, lã, especiarias vindas do oriente, ourivesaria, tapetes, pedras preciosas e objetos de arte antigos e raros. Marco Pólo já foi à Índia e a China e já escreveu seu Livro das Maravilhas, contando que o mundo é bem maior do que mesmo aqueles sábios consideravam. Dessa feita, comerciantes hindus trazem sabedoria do oriente, assim como homens de Catai trazem sua língua estrangeiras, sua porcelana e suas artes marciais e espirituais. Os islâmicos da Arábia e do povo turco transitam nas cidades mercantis da península itálica, formando comunidades e associações, assim como o povo judeu que congrega em sinagogas e aproveita o lastro financeiro construído durante a idade média.
As universidades se espalham. As artes liberais clássicas e medievais (o inicial trivium: gramática, dialética e retórica; e o quadrivium posterior aritimétcia, geometria, astronomia e música) se tornam abertas aos nobres e mesmo citadinos, burgueses e artesãos. As artes mecânicas (carpintaria, forja, agricultura) são aceitas como dignas nas universidades. A alquimia e a astrologia são investigadas profundamente pelos grandes sábios, cristãos e pagãos, assim como a Cabala judaica e a mística sufi di islã. Não apenas clérigos sabem latim, grego e novas línguas. Dante Alighieri já escreveu A Divina Comédia, evocando o imaginário cristão do inferno, do purgatório, do paraíso, relacionando personagens da antiguidade, da idade média e do recente renascimento. O italiano já produz obras-prima e não apenas os clássicos de latim e grego.
A literatura de Bocaccio e Petrarca também já está presente. O primeiro retratando a humanidade de forma nua no seu Decamerão. Sejam esses clérigos, burgueses, camponeses ou nobres, refletindo literariamente sobre a condição da natureza humana e suas misérias e hipocrisias. O segundo recuperando textos da antiguidade clássica, com sua espiritualidade e humanismo, retratando a concepção trágica e poética da vida, com sua ressonância e profundidade de erudição filosófica, literária e espiritual.
A guerra de cem anos já começou entre frança e Inglaterra, e faltará muito para terminar. A reconquista está quase no fim, com apenas Granada islâmica resistindo aos avanços de Castela e Aragão, reinos cristãos que também se expandem na península itálica, dominando Nápoles e Sicília. Veneza, Milão e Florença estão em guerra entre si pelo domínio comercial com o oriente e o ocidente. Mesmo enfraquecido na península ibérica, o Islã mantém sua força e ameaça constante no mediterrâneo e no império bizantino de Constantinopla. Os cristãos gregos se sentem cada vez mais distantes do Ocidente e abandonados por seus irmãos católicos e papistas. Mesmo os pedidos de ajuda militar contra os turcos otomanos se revelarão inúteis.
O papado está dividido entre o papa de Avignon, obediente ao rei francês, Clemente II e o papa romano Urbano VI, autoritário e cruel. O sacro império romano germânico se aproveita da situação e cresce politicamente e aumenta sua influência na leste europeu. A antiga divisão das famílias nobres entre guelfos (partidários do papa) e gibelinos (partidários do imperador) se tornam mais veladas e menos evidentes, mas nem por isso perdem sua força profundamente enraizada na formação da nobreza.
Neste ambiente cresce Florença em 1401, com suas características imponentes. Mais de 100 mil pessoas, numa extensão de aproximadamente 16 quilômetros quadrados. Sua presença na região de Toscana, centro-norte da atual Itália, é uma potência inegável. Já presente com sua tradição artística, comercial, humanista e política, Florença, será o berço do grande renascimento mundial. No decorrer do século XV, verá nascer Michelangelo, Rafael, Donatello, Nicolau Maquiavel, Girolamo Savanarola, Sandro Botticelli. Florença é o berço arcano do renascimento do mundo.

Famílias, ordens e instituições.
Local: Florença.
Data: 1401.

Habitantes Florença: 100 mil habitantes na cidade.
Área: 16 km quadrados.
Atividades: Comércio, Manufatura têxtil, Bancos, agricultura.
Nobreza, plebeus, citadinos.

Maiores Famílias: Médici, Peruzzi, Bardi, Albizzi, Pazzi, Riccardi, Maffei, Alberti, Talenti, Vasari, Soderini, Strozzi, Donati, Davanzati.

As famílias de Florença estão divididas em tempos imemoriais entre duas facções, uma que apóia o papa romano e outra que apóia o imperador germânico. As origens desta divisão poucos se lembram, mas outras fontes de conflito acabam adensando essa divisão, com outras querelas.
Guelfos: favoráveis a causa papal.
Gibelinos (predominância): favoráveis ao império Sacro-Romano-Germânico.

Sistema de poder:
Podestá (Prefeito): Magistratura suprema. (eleito pelo conselho legislativo, renovado anualmente).
Conselho dos dez Priores: Justiça. (responsável pelos julgamentos menores e quotidianos, normalmente composto por nobres).
Gonfaloneiro: Juiz Central. (eleito pelo conselho legislativo, renovado anualmente, juiz máximo).
Bargello: chefe da polícia da cidade. (eleito pelo conselho legislativo, renovado anualmente).

Diocese e Ordens Religiosas:

Diocese.
A diocese de Florença é antiga. A fundação da cidade data do império romano, por Júlio César em 59 a.c. A estrutura diocesana é de matriz romana. Existem sete grandes prédios religiosos sob responsabilidade da diocese. São no mínimo dois padres para cada prédio, incluindo o campanário e o batistério. Na catedral existem três missas diárias, com três padres, o arcebispo e um bispo auxiliar.
Prédios sob responsabilidade da diocese:

1. Santa Maria Maggiore (X) Diocese.
2. San Lorenzo (380) Diocese.
3. Catedral de Santa Maria Del Fiore (1284). Diocese.
4. Battisterio San Giovanni (1059-1336). Diocese.
5. Campanário (1334 – 1443). (ainda em construção) Diocese.
6. Orsanmichele. (XIII) Diocese.
7. Santa felicita (350 d.c.) Diocese

Ambrosianos.
Juntamente com os beneditinos, os ambrosianos são a ordem mais antiga em Florença. Dedicados à formação de famílias nobres e a instrução nas artes liberais, os ambrosianos são considerados pacíficos e acolhedores, embora firmes em suas posições e extremamente competentes em oratória e filosofia.

1. San Salvi (1048). Ambrosianos.
2. Santa Trinitá (1077) Ambrosianos.

Agostinianos.
Os agostinianos marcam sua presença como acolhedores de viajantes e mercadores, principalmente de regiões ibéricas, africanas e do oriente. Considerados grandes anfitriões, são participantes das grandes celebrações públicas, festas e ao mesmo tempo com influência nas áreas de justiça e polícia na cidade.

1. Santa Maria Madalena. (1257) Agostinianos.

Servitas.
Uma ordem pequena e recente, datada do século XIII, originária da própria Florença. Seus sete fundadores eram filhos da burguesia local que se despiram de seus bens e decidiram servir os mais necessitados. Extremamente místicos, privilegiam a adoração e grandes ladainhas, além de procissões e retiros espirituais para jovens, estrangeiros, camponeses e empobrecidos da cidade. Privilegiam tanto a parte masculina quanto feminina.

1. Santíssima Annunziata (1250) Servitas.

Carmelitas.
Os carmelitas são uma das poucas ordens que possuem seu convento na parte rural da cidade, ao sul do Arno. Extremamente artísticos, compõem músicas, atos litúrgicos, procissões. São muito respeitados pelos camponeses e comerciantes. Possuem a parte feminina e masculina.

1. Santa Maria Del Carmine (XIII) Carmelita.

Franciscanos.
Os franciscanos são uma ordem muito popular em Florença. Com influências em todas as áreas, desde arte à política, dos camponeses e mendigos aos grandes comerciantes e nobres. Com duas construções na cidade, o próprio São Francisco esteve na fundação de uma delas.

1. Santa Croce (1222) Franciscanos.
2. Ognissanti (XIII) Franciscanos.

Dominicanos.
Os dominicanos são a ordem politicamente mais importante de Florença. Com uma influência imensa na diocese, nas estruturas dos conselhos legislativos e no conselho jurídico. Pregadores intensos, estão sempre nas praças, nas reuniões, nas assembléias, elevando o debate, enfrentando sábios de várias regiões, judeus, islâmicos, hundus, chineses e ortodoxos. Juntamente com os franciscanos, são os mais numerosos em Florença, com também duas construções.

1. Santa Maria Novella (1246) Dominicanos.
2. San Marco (XIII) Dominicanos.

Beneditinos.
Os beneditinos são a ordem mais antiga de Florença. Reclusos, enigmáticos e austeros, sua Abadia é um dos prédios mais impressionantes da cidade. São produtores de pães, vinhos, obras de arte. Existe um órgão e harpas na abadia. Possuem as duas partes, masculina e feminina. Possuem dois mosteiros, entre um além do Arno, para atendimento de camponeses. Na Abadia, atendem famílias abastadas, e predominantemente nobres com tradição na cidade. Sua posição no conselho é sempre reverenciada por todos, diocese, dominicanos e franciscanos.

1. San Miniato Al Monte (500) Beneditinos. Depois do Arno.
2. Badia Fiorentina (980). Beneditinos.

Eremitas de Camaldoli.
Os eremitas de Camaldoli são os mais recentes na cidade. Chegaram no final do século XIII. São oriundos dos beneditinos, fundados por São Romualdo em 1009 d.c. Discretos, se instalaram na parte mais recente e mais pobre da cidade. Fundaram escolas, oficinas e comércios. Transformaram os citadinos mais pobres em comerciantes e artesão. São muito queridos em sua região, se equiparando aos carmelitas e aos franciscanos. Não se intrometem na política da cidade, e não parecem interessados em conseguir as graças da nobreza. Se preocupam centralmente com os pobres e com a educação. São chamados pela população de os angeli.

1. Santa Maria degli Angeli (1295). Eremitas de Camaldoli (os anjos).

Comandante das Armas: Líder militar.
Conselhos Legislativos. Cada guilda de ofício tinha três representantes. Cada Ordem e a diocese tinham 3 representantes. Cada família nobre tinha 3 representantes.

Guildas maiores: Guilda da Lã e da Seda; Guilda dos comerciantes; Guilda dos Feirantes; Guilda dos Artesãos; Guilda dos taverneiros; Guilda dos Bancos; Guilda dos médicos e farmacêuticos.

Figuras Públicas notáveis em 1401.

Filippo Bruneleschi. (1377). Jovem escultor promissor. Considerado o favorito da corporação da lã e da seda, dos comerciantes e dos artesãos.

Donatello (1386). Escultor e pintor aprendiz de Bruneleschi.

Lorenzo Ghibert (1378). Humanista, filho do ourives. Bem visto pela diocese e por algumas ordens religiosas.

Bartoluccio Ghibert, ourives. (1350) figura proeminente da guilda dos artesãos, já foi Bargelo, veterano de guerra. Pai de Lorenzo.

Nanni di Banco (1375). Pintor e escultor humanista, preferido de Carmelitas, beneditinos e ambrosianos.

Leonardo Bruni. (1369). humanista, investigador, advogado, escritor. Intelectual muito respeitado.

Podestá: Luigi Albizzi, Il justo. Adormecido. Nascimento (1350) - Assumiu (1398). Da família Albizzi, podestá há 3 anos. Considerado justo e implacável.

Cardeal-arcebispo D. Abruzzio Strozzi. Nascimento. (1320), assumiu em (1364). Considerado um santo vivo. Extremamente popular, influente e sábio. Força política assombrosa. Rumores afirmam que é milagreiro.

Bispo D. Giussepe Vasari. (1364). Sóbrio, segunda força da Diocese. Extremamente prático, é ligado mais às guildas que as ordens religiosas ou celebrações. Conduz as obras e negócios da diocese.

Bergello Adriano Soderini. (1363). Veterano de guerras contra Milão, agora responsável pela segurança da cidade. Comanda uma tropa de mil milicianos espalhados pelos bairros, praças e mercados de Florença. Andam sempre em grupos de 5 pessoas.

Mapa de Florença em 1401. Igrejas, palácio, praças e pontes.

São vinte e sete grandes construções. Sendo 19 religiosas e 8 seculares.
Praças. Cada Igreja tem sua praça, com estátuas e monumentos modestos neste período. Cada praça possui uma pequena milícia de 5 guardas citadinos.
Palácios e casas:
Várias outras famílias comerciantes e nobres possuem palácios e casarões nas ruas de Florença, com no máximo quatro andares de 3 metros. Assim como grandes loggias também se espalham em determinados pontos. Porém, a maioria das casas e pequena, térrea, de barro e madeira. Construções de taipa de pilão também são facilmente encontradas.
Bairros: Florença está dividida em cinco bairros.
Oeste.

A região oeste de Florença é dominada por famílias de mercadores, artesãos e de oficinas diversas. Lugar de intermediação entre o poppolo Piccolo (povo pobre) e o popolo mezzo (sem título de nobreza, mas com certas posses). Ainda em expansão, a presença das ordens religiosas se nota, com seus debates e formações. Existem diversos mercados e muita atividade comercial. As ruas são estreitas, e muitas casas são de madeira ou taipa. Porém já se erguem algumas construções de três ou mesmo quatro e cinco andares.

1. Santa Maria Novella (1221) Dominicanos.
A construção dos dominicanos representa o vigor da época, a mistura do gótico com suas arcadas e vitrais com a largura e o espaço para as obras de arte e esculturas renascentistas. A piazza santa Maria novella é o lugar de pregação dos dominicanos, suas procissões e debates públicos com outras religiões, sobre política da cidade e acordos comerciais. Tudo é levantado e se proferem sermões ao ar livre, onde se aglomeram diversos tipos de pessoas. Curiosamente, são raros os comerciantes que se arriscam a construir uma venda ou tenda nos arredores dos dominicanos, relegando a praça ao debate religioso, político e litúrgicos.

2. Ognissanti (XIII) Franciscanos.
Esta construção bela e simples franciscana acolhe os operários de manufaturas de lã da região. Também é um hospital para mendigos e empobrecidos, onde podem ficar por algumas noites, e mesmo se tornarem frades se obedeceram às regras. Humildes e modestos, os freqüentadores desta igreja são fiéis e atuam sempre ao lado dos franciscanos em festas e celebrações.

3. Santa Trinitá (1077) Ambrosianos.
Antiga fortificação romana, provavelmente um templo dedicado a Marte, os ambrosianos tomaram conta e transformaram em uma igreja. Cuidam deste local para os mercadores mais abastados e antigos na região. Ocasionalmente os milicianos fazem deste local seu lugar de descanso e abrigo diários. Ainda se conseguem as antigas pilastras do templo e seu teto formado pela arquitetura clássica.

4. Santa Maria Maggiore (X) Diocese.
Esta igreja data da época anterior do cisma do oriente, em que a Igreja Bizantina e Católica. Pertencente originalmente a uma congregação grega, a diocese assumiu quando os gregos foram expulsos de Florença. Atualmente são os descendentes dos gregos e mercadores bizantinos que freqüentam. Mesmo que com padres católicos, a diocese permitiu que o rito greco-melquita fosse adotado, com missas em grego e em aramaico. O ambiente traz ícones e mosaicos na tradição bizantina. Vista com desconfiança por todos aqueles que não tem ligações com a cultura bizantina, a igreja tem reputação de mal-assombrada, herética e amaldiçoada. Evita-se terminantemente se aproximar dela durante a noite e mesmo em momentos de missas e cultos do rito Greco-melquita.

5. Mercato Nuovo (XIV).
Promovido pelo conselho legislativo, este espaço de 400 metros quadrados está reservado a barracas, vendas, feiras, comércios em geral. A maior atração do bairro, o mercado novo foi construído a um século e ainda é novidade. Coração econômico da região, onde podem ser encontrados todos os povos que vivem em Florença, com religiões diferentes, artigos exóticos, tecidos e tesouros. Centro comercial da seda, pedras preciosas, ourivesaria. Mendigos e marginais são freqüentes, a milícia está sempre presente e muitos guardas particulares estão em volta.

6. Palazzo Davanzati. (XIV)
Este palazzo de cinco andares foi o primeiro a ser construído nesta parte da cidade, ao mesmo tempo do mercado novo e expressa a expansão da cidade e seu crescimento urbano. A família Davanzati não possuía título de nobreza na época de sua construção e somente posteriormente, devido a imponência de seus negócios e prosperidade, simbolizadas na construção do palazzo, foi lhe oferecido o título de barão e um brasão de armas. É a família mais importante da região, com forte influência na guilda da lã e da seda, dos comerciantes, dos feirantes.

Norte

Esta é uma região antiga da cidade, mas está abandonada, tornando-se uma espécie de periferia, onde os recém-chegados de outras cidades ou do campo podem tentar começar a vida. Espaço de atuação de ordens religiosas, a atuação comercial é de alcance local, inexpressiva para a cidade. Dizem que existem muitos túneis subterrâneos ligando essa região ao centro da cidade. Neste lugar pode-se encontrar refugiados das mais diversas regiões do mundo, de religiões diferentes e línguas diferentes. Aqui estão concentrados a maior parte da comunidade judaica e islâmica de Florença. Embora a pobreza seja característica do lugar, as oficinas proliferam, com muito artesão sendo formados. As celebrações, religiosas ou pagãs, também são frequentes. As ruas se dividem entre largas e estreitas.

1. San Lorenzo (380) Diocese.
Oriunda do período romano, San Lorenzo é uma igreja marcadamente clássica, ampla com colunas romanas e arcadas e púlpitos com inspiração imperial romana. Os freqüentadores são poucos, deixando um aspecto arcano e sombrio. Com boatos sobre fantasmas romanos e pagãos rondando a região, poucos são os que se atrevem a participar das celebrações. Algumas famílias de mercadores de outras cidades italianas, principalmente venezianos e milaneses se sentem mais à vontade por se sentirem menos observados e controlados. A diocese mantém dois padres há muitos anos, que já estão idosos, mas não há planos de retirá-los. Dizem que estes dois, Piero e Paolo, fizeram pactos demoníacos para justificarem sua longevidade.

2. San Marco (XIII) Dominicanos.
Este convento dos dominicanos atende principalmente a população mais pobre da cidade, mendigos e marginais, acolhendo-os e cuidando para que possam ter um mínimo de cuidado. Embora muito austero, também com uma construção clássica, consegue ser um centro de peregrinação e esperança da região.

3. Santíssima Annunziata (1250) Servitas.
Os discretos servitas também servem nesta região, acolhendo com docilidade os estrangeiros, os empobrecidos e a todos que se aproximarem. É um centro de peregrinação mariana fortíssimos, e muitos buscam milagres nesta igreja, pagando promessas e levando oferendas. Não é raro rumores sobre curas milagrosas e conquistas impossíveis. Procissões, ladainhas, adorações são freqüentes. Sendo a única igreja que fica aberta até tarde da noite, e sempre iluminada e com portas abertas, os servitas se tornam muito queridos e reverenciados por todos na região. A piazza della santíssima annunziata se torna referência de acordos, de exposições de arte e debates mais filosóficos e místicos.

4. Santa Maria degli Angeli (1295). Eremitas de Camaldoli (os anjos).
Os monges de origem beneditina, independentes depois, os eremitas de camaldoli construíram um colosso nesta região. A segunda maior igreja, depois de santa Maria novella, mas maior em tamanho devido ao seu número de construções e adjacências, Santa Maria degli Angeli é um complexo que inclui alémd a igreja uma escola, oficina, padaria, sapataria, comércio, tapeçaria, uma ferraria, farmácia e hospital, e uma ampla área de horta para próprio consumo. Instrutores e professores, os eremitas espalham seus saberes, até mesmo as artes liberais, de forma impávida e incansável. Graças a sua atuação notável nesta região, os habitantes os chamam de os angeli.

5. Santa Maria Madalena. (1257) Agostinianos.
Este é um centro para os mercadores da região, principalmente ibéricos e africanos. Dedicados ao crescimento espiritual e intelectual, estes estrangeiros encontram em Santa Maria Madalena um ponto de encontro e de acesso aos caminhos de Florença. Formadores em direito, artes e oratória, os agostinianos transformaram Santa Maria madalena num pulsante centro de estudos, orações, aulas e debates.

Centro

O centro de Florença é o núcleo da cidade. Desde sua fundação na época romana, o bairro se caracteriza pelo mercado, pelos centros de poder, pelas ruas estreitas e vielas sombrias. A movimentação constante de pessoas, os mercados e feiras que se espalham em todas as praças, os fóruns decisórios fazem que os mercadores mais prósperos e ascendentes escolham morar nesta região. Oficinas de artesão, lojas e escritórios podem ser encontrados abundantemente. Os prédios são mais imponentes, existem algumas loggia menores e a movimentação diária é frenética.

1. Catedral de Santa Maria Del Fiore (1284). Diocese.
Considerada a quarta maior construção da Cristandade, depois de São Pedro em Roma, catedral de Milão e de Londres, a catedral de Florença impõe. A piazza Del duomo acolhe esta catedral, o batistério, o campanário e a Loggia dei lanzi. São 45 metros de largura e quase 100 metros de altura, contando com a cúpula ainda inacabada. Acolhe também a casa do arcebispo e do bispo, assim como os quatro padres responsáveis pelos batismos, confissões e acolhida do povo. São três missas diárias, de manhã, tarde e noite. Acontecem adorações às noites de sábado e domingo.

2. Battisterio San Giovanni (I d.c.). Diocese.
Este monumento considerado o mais antigo de Florença. Da época do primeiro imperador romano, Augusto, o batistério é o grande centro de peregrinação. Primeiramente dedicado ao deus imperador Augusto, como marco do início do império, e depois de sua cristianização, para São João batista que é o padroeiro da cidade. São milhares de pessoas circulando em volta, batizados em grupo, peregrinos, mercadores.

3. Campanário (1334). (ainda em construção) Diocese.
Iniciado por Giotto, o campanário expressa o desejo de crescimento da cidade. Ainda em construção (agora com 60 metros de altura) seu objetivo é superar a altura da catedral. Lugar de observação da piazza Del duomo, dos arredores e centro da milícia local. Possui salas de exposição da história da cidade, das virtudes, das artes liberais, dos sacramentos, dos ofícios humanos e dos planetas. Um monumento ao saber e a erudição buscada em Florença.

4. Orsanmichele. (XIII) Diocese.
Este espaço de oração e descanso das caravanas medievais tornou-se um importante centro comercial, onde tendas, casas e vendas se espalham em consonância com os oratórios a São Miguel e a Virgem Maria. Existem catorze nichos, das principais corporações da cidade, tornando-se uma espécie de panteão comercial.

5. Loggia Del Bigallo (1350).
Este centro comercial, próximo de Orsanmichelle, também fervilha com o comércio e com os mercados, oficinas e corporações. Porém o que mais se destaca é o hospital da confraternità della Misericórdia, o mais importante de Florença. Com a capacidade de dezenas de leitos, este hospital possui a equipe de médicos mais preparada, atendendo nobres e mercadores, florentinos e estrangeiros. Dizem as lendas que existem heresias e práticas proibidas pela igreja neste hospital, mas até agora nada foi provado nos momentos de mais sofrimento, ninguém realmente se importa com a outra vida até que os recursos desta vida consertem este corpo mortal.

6. Loggia dei Lanzi (1381).
Lugar de comércio de armas e instrumentos de guerra também é uma parada de mercenários e quartel central do exército de Florença, onde os soldados são recrutados e recebem as primeiras orientações. Também é o lugar do comandante do exército quando se reúne com seus capitães. Espaço vigiado e controlado, a loggia atrai mercadores e mercenários para negociarem, assim como propostas de alistamento no exército. Existe também um salão nobre, que durante certas festividades oficiais e paradas militares se torna um centro de recepções e festividades reservado para os grandes eventos para a aristocracia nobre e burguesa da cidade.

7. Piazza della signoria (I. a.c.) e Palazzo Vecchio (1299).
Centro político e civil, construído desde a fundação romana, a piazza della signoria é o centro de decisões da cidade. Filhas e mulheres dos nobres passeiam entre as tendas e mercados mais finos e caros de Florença. Artistas do mundo inteiro expõem seus trabalhos e artes. Os nobres negociam terras, escravos, propriedades e alianças políticas. Burgueses realizam tráfico de influências e as ordens religiosas sempre presentes em diálogos discretos sobre a fé. O palazzo Vecchio tem sua torre de 94 m, somente inferior à cúpula da catedral. Neste palácio está a sede da justiça, a sala do ganfaloneiro (juiz máximo) e dos dez priores da justiça, assim como a sede de cada corporação ou guilda presente na cidade. Também sede do conselho legislativo, órgão máximo decisório da cidade.

Leste

A parte leste é dominada pelos palácios, praças e espaços da aristocracia mais tradicional de Florença. A maior parte construída na Idade Média. As grandes famílias com títulos de nobreza e terras no interior e nos campos possuem seus palazzos nesta região. Extremamente elegante, mesmo com fontes e estátuas nas ruas, o bairro é o mais seguro e mais ostentoso da cidade. As ruas são bem cuidadas e limpas e a circulação de pessoas é pequena. São normalmente vistas carruagens, transportes e belos cavalos. Também uma parte antiga da cidade, suas construções góticas recordam Florença de sua era medieval, com a atmosfera mística e sombria de um sonho recém-desperto.

1. San Salvi (1048). Ambrosianos.
Nesta primeira igreja da ordem em Florença, os ambrosianos detêm sua maior influência entre as famílias nobres, demonstrando sua erudição e cultivo pela arte e pela celebração refinada da palavra e dos sacramentos. Embora muito simples, a igreja possui uma estrutura clássica acentuada, lembrando demais um domus romano. Existem orações do rosário diárias à tarde, e ao pôr-do-sol adoração. Fazem celebrações de poesias e cânticos espirituais, Além de uma produção modesta de pintura e escultura. Muitas damas aristocratas fazem deste lugar seu encontro, que também é um centro de formação das artes liberais.

2. Badia Fiorentina (980). Beneditinos.
Em estilo gótico, com uma torre de quase 80 metros de altura, a badia Fiorentina evoca o passado medieval de Florença. Contando com quase 20 monges, que trabalham produzindo pães, doces, vinho, artefatos religiosos de fina qualidade, este mosteiro central dos beneditinos tem os vitrais mais impressionantes da cidade. O canto gregoriano diário invade esta região todo nascer do sol, e a clausura se eleva, parecendo acolher toda a cidade. Reclusos e eruditos, a biblioteca dos beneditinos é considerada a maior e mais valiosa da cidade. Dizem que muitos segredos medievais estão contidos lá dentro, e a reverência diante deste lugar santo evoca um misto de tremor e adoração. Os sinos marcam as horas, e garantem a segurança do tempo na região.

3. Palazzo Del Podestá (Bargello) (1255).
Em frente a Badia Fiorentina está o palazzo Del podestá, a residência do prefeito da cidade e de sua família. Semelhante a um forte medieval, ocupando o espaço de duas quadras, inspirado na fortaleza de guerra, neste complexo também mora o bargello, chefe de polícia da cidade, com sua família. Onde os milicianos fazem seu descanso e treinamento, este prédio tem movimento noite e dia. Espaço de encontros freqüentes, de recepção de nobres, mercadores e ordens religiosas, o palazzo Del podestá é o lugar de decisões privadas e influências tênues em jogo.

4. Santa Croce (1222) Franciscanos.
Fundada pelo próprio São Francisco de Assis, inicialmente uma pequena capela, a igreja se tornou um complexo durante o século XIII. Com 88 metros quadrados, a igreja de santa Croce é uma expressão do gótico italiano. Comparada a igreja santa Maria novella dos dominicanos, santa Croce possui os vitrais mais impressionantes da região. Espaçosa, aberta ao público, com sua praça também imensa, é a maior construção do bairro. Lugar de encontro de nobres, de discussões elegantes e debates públicos da condução das políticas da cidade, as reuniões refinadas da aristocracia com a ordem religiosa promovem o movimento cívico da região. Como resultado das doações, as famílias abastadas possuem criptas espalhadas pela nave central da igreja, tornando o lugar um mausoléu e centro de contemplação da aristocracia florentina. As capelas da igreja estão adornadas com as mais belas pinturas de artistas florentinos, com cenas do evangelho, do antigo testamento e um ciclo de frescos demonstrando a vida de São Francisco de Assis.

Sul

Ao sul do Arno, Florença ainda possui muitas características medievais. Embora haja algumas estradas em pedra e algumas construções, a maior parte desta região são fazenda, feudos e vilas de camponeses com suas pequenas plantações. As famílias aristocratas possuem sítios, fazenda e chácaras na região, com pequenos grupos armados fazendo proteção, camponeses a seu serviço e plantações e criações de gado. É a parte do feudalismo que alimenta a cidade.

1. Ponte Vecchio (120).
Parte fundamental da cidade, a primeira ponte é dos romanos. Ainda com estrutura de pedra, a ponte Vecchio é constantemente restaurada, devido a enchentes do Arno. Em 1333 houve uma grande enchente que destruiu parte da ponte, sendo reconstruído em 1345, que perdura até hoje. A principal passagem para o lado sul da cidade, é o lugar onde os camponeses e pequenos artesãos fazem uma grande feira diária, comercializando e consumindo o fruto dos seus trabalhos. O fervilhar do dia se contrapõe com a quietude da noite, pois dizem que à noite a ponte é assombrada. Muitos já desapareceram de forma misteriosa ao se encaminharem para lá depois do pôr-do-sol. As explicações de quedas no rio não satisfazem, mesmo porque os corpos nunca são encontrados, e mesmo aqueles que caminham por perto da ponte às vezes escutam gritos de desespero dos fantasmas daqueles que desapareceram.

2. Ponte Allá Carraia (1218).
A recente ponte Allá carraia tem uma estrutura mais forte e mais larga que a ponte Vecchio, demonstrando a força da construção de Florença. Preferida por todos aqueles que têm que atravessar o Arno à noite, é bem iluminada e mesmo os milicianos a preferem para montar vigilância noturna.

3. San Miniato Al Monte (500) Beneditinos.
Também representante da arquitetura antiga, este monastério foi primeiro dedicado a titã gaia e à deusa Deméter, da agricultura. Abandonada durante séculos com a cristianização em 1075 pelos beneditinos foi restaurada, mantendo a imponência clássica e as estruturas romanas e detalhes gregos. Os beneditinos possuem sua fazenda próxima deste monastério, onde produzem pães, doces, vinhos e tem gado de cabras e cavalos. Extremamente reclusos, os monges obedientes a badia Fiorentina, fazem somente uma missa diária, ao nascer do sol, e mesmo assim não gostam de receber visitas. As relações com os camponeses locais é quase inexistente.

4. Santa Maria Del Carmine (XIII) Carmelita.
A discreta igreja carmelita é a alegria dos camponeses da região. Com seus corais masculinos e femininos, com os cultos, festas e procissões, a igreja é o ponto de encontro do povo. De inspiração gótica, é extremamente iluminada com vitrais belíssimos da Virgem Rainha. É o lugar onde se realiza as feiras e as quermesses da colheita e da festa do padroeiro da cidade, São João batista. Os carmelitas, místicos e acolhedores, se tornam os verdadeiros condutores do popolo Piccolo da região. Existem rumores que a parte feminina é visitada constantemente pela Virgem Maria, que como a grande mãe indica os caminhos para o povo prosseguir.

5. Santa felicita (350 d.c.) Diocese.
Considerada a construção originalmente cristã mais antiga da cidade, Santa felicitá é uma modesta construção de caráter romano. Os dois padres que vivem na igreja são gentis e acolhedores, Damião e Danúbio, e normalmente são chamados para resolver conflitos e disputas entre as famílias camponesas. Contudo, existem rumores em outras regiões de Florença que existe um culto pagão de fundo, reverenciando aspectos escondidos da religião grega e romana. A ligação dos padres com as festas de agricultura e com o pastoreio dos camponeses se mostra muito estranho e suspeito, segundo alguns membros da diocese.





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