Meru, circa 1380 D.C.
Meu corpo ainda dói da última lição. Treinar o corpo e a mente ao mesmo tempo é altamente extenuante, ainda que libertador a longo prazo. Dizia o mestre Yu que os limites da mente estreitam-se quando o corpo alcança também seus limites, e que isso era o início do aprendizado do Dô. Neste exato momento, meu limite alcançava o extremo entre o inspirar e o expirar, entre os batimentos do coração: os intervalos eram a lição atual.
Meus olhos começaram a arder quando o incenso fluiu pelo ar até atingir minhas narinas. Almíscar? Lírio? Peônias? Não sei... Tudo estimulava mais do que devia.
O som da fonte, do vento e de minha respiração pareciam mesclar-se num só, como se fossem um pulso uníssono e direcionado. Era estressante manter o ritmo, sem cadência, mas fazia sentido. O crepitar das tochas, acesas sei lá quando (há quanto tempo estou aqui?), indicava que a luz começara a ceder e o céu a ter uma coloração diferente. Era um alaranjado, mesclado ao tremular das chamas das tochas, parecia uma marca imiscível, um limiar entre o que é perceptível e o que não o é.
Foi quando percebi... O limite... A fronteira inexistente que arbitrariamente tocamos ao tentar compreender o infinito... O Dô... É preciso desaprender para aprender...
As chamas, de trêmulas, passaram a ondulantes, como a perturbação antes do peixe saltar do lago, ou da gota que afasta a própria água quando afunda e se mescla.
Meu ritmo tornou-se uniforme. Mestre Yu, aproximando-se silenciosamente, tocou meu ombro e, num último espasmo meu, observei seus olhos, e percebi o quão satisfeito ele estava por eu ter compreendido aquela lição.
Um comentário:
Caro Cesar,
Muito legal seu prelúdio. Gostei da relação entre "limite físico" com a "transcendência". Um método ascético interessante!
Gostei de seu nome: "Yun Lee".
Teremos continuação?
Atenciosamente,
Hugo Marcelo
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