¥ Svetlana Olen ¥
Era ela. Parada ali no alto de costa olhando para o horizonte no topo da colina em meio aos arbustos em plena noite.
- “O que fazes aqui Freia?”, perguntei.
- “Olhe para frente e responda você mesma.”, respondeu.
Ao chegar ao seu lado, sentindo o vento roçar na minha pele, olhei para baixo e vi corpo sendo carregados pelas Valquírias. Haviam vários jogados uns em cima do outro e mais na frente corpos boiando.
Um mar de gente morta, muito parecido naqueles que encontramos em batalhas. O odor era forte e a morte estava presente. Pude até senti-la acariciando minhas bochechas.
Em meios a tantos corpos, haviam vários homens, mulheres e crianças. Aquilo me causava enjôo e mal estar. O que havia de tão hipnótico naquilo tudo para ela estar olhando sem cessar?
Ela olhava em uma direção fixa que me fez procurar o seu olhar. Ao observar na mesma direção cujo os seus olhos haviam se fixado, um em particular chamou a minha atenção por estar com um casaco de couro e com uma túnica de mangas curtas amarelas. Fiquei atônica!
Vi meu pai, sobre um corpo de um cavalo e com as cabeças apoiadas a uma barriga de uma criança. Saí ao seu encontro com muita velocidade e tive até mesmo que caminhar sobre outras pessoas para meus braços alcançá-lo!
Quando cheguei perto o vi sem vida, gelado com os olhos para o céu ainda aberto. Meu querido e amado pai ali, ensangüentado e frio, sem expressão alguma.
Ao me apoiar em seu peito, vi o corpo de Bruno mais na frente sendo carregado por uma Valquíria. Me levantei e fui correndo antes que ela partisse. Ao tocá-lo chorei. Beije-o e apertava a sua mão como fazíamos amor.
A Valquíria me olhou com desprezo e ao montar no cavalo alado, me empurrou com os pés. Não tinha mais força para relutar, nem discutir com ela. Era insano! Tudo estava tão escuro e sombrio...
Quando estava jogada no chão, senti como se estivesse morta. Minha mão esquerda estava tocando a um rosto ainda mais gelado que o inverno de Kupala. Ao girar meu rosto chorando, descobri que o rosto na qual eu tocava, era aquele da Sra. Ausra. Era ela, na aparência velha que usava em certos momentos, com as linhas da vida retratadas em seu rosto. Talvez fosse essa a sua real essência. A peguei em meus braços e abracei. Depois voltei e olhei para aquele rosto que me sorriu tantas vezes.
Por alguns minutos fiquei estática, deixando que as outras Valquírias passassem por ali sem me incomodar. Elas cantavam músicas tristes que tocaram até a minha alma.
“POR QUE ISTO ACONTECEU?” gritei olhando para Freia.
Ela foi vindo em minha direção e sorrindo disse:
“Isto é fruto de sua escolha, da sua vida, do seu destino. Se fracassas, terás que conviver com isso toda a sua vida. Ou o que restar dela. Os deuses não permitirão que você seja inocentada. Não sejas tonta! Ande, não me faça ter piedade de ti! VAMOS, MOSTRE ME VERBENA!”.
Ao escutar essas palavras, que iam ecoando cada vez mais dentro de mim, abri os olhos lentamente, me encontrei nos braços de uma mulher, segurando-me, assim como havia feito com a Sra. Ausra.
- “Não temas! Agora estás a salvo! Meu nome é Aurora", sorriu.
E os raios de sol tocaram meu rosto.
2 comentários:
Camila,
Assim vc conheceu Aurora.
Acho que vc sonsolidou seu estio de escrita.
Muito legal...
Hugo Marcelo
Grande D. Numa,
A relação entre a queda de Eska e a relação com o diálogo com Freya foi fantástico! Quase uma renarração!
Postar um comentário