Cap. 30 – Ritual de purificação

¥ Svetlana Olen ¥ 

Estava meio atormentada com o que me acontecera. Não sabia o que tinha sido mais duro a noite ou a aprovação de Freia.

Mesmo assim, ao me acordar, estava ainda passando mal. Tremia e sentia que minha pele estava toda negra. Ao olhar para os lados, o céu estava amarelado, como se o sol estivesse a poucos minutos de sair.

Aurora parecia falar com alguém sentada no coreto ali próximo.

Ao virar minha cabeça, vi um lago com uma pequena ilha no meio.

“Um lago!” pensei.

Com um só giro, caí na água e me deixei afundar...

Meus cabelos no momento que tocaram na água, foram se desprendendo e sendo levados pela corrente que o vento gerava naquel local, acomodando-se na margem do lago onde havia mato.

A escuridão e o frio já não me incomodavam mais, somente aquela capa de gordura que sentia em mim me enojava! 

No caminho de descer o lago meu corpo pesado e imóvel ia borbulhando e despelando. Assim como as cobras quando estão trocando de pele, tive a minha sendo rasgada pela água a ponto de sair sangue. A dor não existia mais. 

Vomitei dentro da água, tive crises de epilepsia, e gritava sufocada por não conseguir respirar. Minhas unhas foram arrancadas pelos peixes. Meus dentes amarelados e podres todos caíram. Minha orelha se desfez, meu rosto descascava.

Ao tocar minhas partes íntimas, elas foram se desfazendo como trigo em água. Peguei um pouco desse pó e trouxe perto do olho. Mas não haviam mais olhos. Como em contração, expulsei dentro de meu ventre algo que não consegui ver, mas era viscoso e quente.

Ao tocar o chão do lago, percebi que deveria voltar a superfície novamente.

À medida que fui subindo, minha pele foi renascendo, minhas orelhas crescendo e meu corpo tomando forma e curvas novamente. Novas unhas iam nascendo a partir dos ossos que se prolongavam e se despreguiçavam em mim. Dentes apareciam como os de criança e mais brancos e meus cabelos foram crescendo e se tornando ainda mais fortes e negros!

Ao chegar na superfície ainda com as minhas mãos sobre o meu novo corpo, fiquei imóvel por tempo suficiente para ser capaz de compreender que tudo havia mudado.