Cap. 28 – A Morte...

¥ Svetlana Olen ¥ 

Acordei subitamente pensando que aquilo fora um pesadelo.

Ao me levantar, percebi que estava com a mesma roupa no mesmo local de outrora. A grande diferença foi a quantidade de falas, gemidos e barulhos que havia no local naquele momento.

A cena não era nada de valor a vida. Eram mortos vivos, seres nephandus, criaturas negras e sombrias. Estavam se saciando na comida, no sexo, na carne.

O odor era ainda mais podre que anteriormente, o chão gosmento e sujo me davam nojo. Meu nariz ardia e meus olhos lagrimavam com tudo aquilo que estava presenciando.

-“Mas que belo troféu este de Pedro. O mais belo de todos. Ainda cheira ao frescor doce da vida!” disse um homem baixinho, ainda mais alvo que Pedro e com um olhar muito mais frio.

Não sabia o que responder, mas percebi que era um vampiro, pois suas pupilas dilataram quando viu entre minhas pernas o sangue escorrer...

-“Sabia que tenho sangue nobre? Sou ainda mais doce do que pensas. Sou a intensidade da vida própria!” respondi pensando que de alguma forma ele poderia me ajudar a sair dali.

-“Ora essa... a mim a vida não adentra faz séculos. Não ao menos da forma como penso que és...” e se aproximando para perto de mim.

De repente, o vi voando para a lateral de forma muito violenta e se machucando ao tocar a parede.

-“Ela é miiiiiinha!” gritou Pedro. “MINHA!”.

Foi aí então que senti meu corpo levitar rapidamente e o vendo se aproximar de mim, rasgando a sua pele e se transformando em uma criatura monstruosa.

Quanto mais gritava, mais sentia o seu prazer dentro de mim. Era com tal violência, que senti meu sangue aos poucos sangrar pelos poros. Vomitava com toda a abominação que aquele homem percorria o meu corpo.

Sentia aos poucos a sua negritude invadir cada veia dentro de mim e tomar a vitalidade que um dia me pertenceu. Ele gemia e todos abaixo rindo, comendo e se comendo de forma grotesca!

Revirava os meus olhos como se nada os fixava dando voltas e mais voltas.

Quando mais dor sentia, mais ele saboreava a ação de me destruir. Eu era sua e nada poderia fazer. Ele havia me aprisionado em sua mente e em meu corpo que aos poucos sentia morrer...

Freia não estava lá. Ela tinha me abandonada! Nem mesmo ela poderia suportar a idéia de ser violentada. A idéia da morte estava presente e me fez sangrar na alma.

Minhas células eram tomadas por desejos negros enquanto ao fechar os olhos corria desesperada pelo lado oposto de tudo. Meu corpo pegava chamas.

A minha auto-destruição começava... meus membros aos poucos foram tomados por ácidos que borbulhavam e parte de minha pele começava a pingar no chão. Meu tronco já não tinha mais as curvas que atraíam tantos olhares, mas cicatrizes iam sendo formadas. Meus cabelos se desfaziam e iam caindo como penas de pássaros sendo levados pelo ar. Meu rosto ia se mesclando aquela fumaça emanada pelo narguilé que decorava o centro do ambiente. A cada pulsação minha que ia diminuindo conforme os gestos de Pedro, pude ver que Freia sempre estava lá, mas também sendo consumida por ele.

Ele conseguiu absorver meus desejos, instintos, valores, odores, anseios, vontade, impulsos, veleidade, e faltava pouco para absorver a minha última fonte que ligava a mim a vida: Freia.

No meio da escuridão na qual me queimava, ouvi gritos com vozes humanas surgindo. Foi aí que então ele me largou e ao cair no chão, respirei pela última vez.