Svetlana Olen ¥ Cap. 20 – Êxtase

¥ Svetlana Olen ¥ 

Pela primeira vez tive desejo por um homem só. 

Ele era alto tão antagonista para mim que me enchia de curiosidade. Não conseguia entender como tal ser apaixonado pela roda da vida, adorava tanto à morte. 

Por que cultuá-la se o importante mesmo era ser tomado pelos prazeres da vida?

 

"Acalanto
Túrgida
Alva
Trêmula
Faminta
Sedenta
Tirana
Dilacera
E transborda"

Era alguém que me deixava sem fala, mas que sucumbia ao silêncio mais entorpecente tomado por um vazio estranho.

Ironicamente aquilo me atraia. Não me abastecia de energia, mas retirava parte da minha. 

Até então, nenhum havia conseguido tal façanha... aliás nada até então.

Era uma sensação de entrada e saída de fluídos energéticos que me embriagavam a cada beijo ou toque. Já tinha virado certo tipo de droga, pois ao contrário dos outros que só me faziam bem, esta sensação me causava também mal.

Era uma luta interna que me abastecia e me entorpecia de ânsia e saciedade, certezas e dúvidas, sorrisos e lágrimas. Não tive medo, mas um encanto enorme que me adormecia a pele. 

Estar com ele me eliminava toda a ansiedade de minha missão, me proporcionava muita confiança, além de euforia com estremo prazer. Diminuía meu sono, fome e até mesmo cansaço de todos esses meses de viagem. Minhas percepções sensoriais estavam bem mais afloradas, preenchendo com uma certa despersonalização mística em que me sentia unido ao Universo de ser uma unidade individualizada. Perdi e me encontrei várias vezes.

O que fazer para aceitar tal destino? Os deuses poderiam me castigar, pois a dor me produzia prazer e necessitava sentir.

Freia aparecia por voltas, observando tudo aquilo. Não sabia por certo o que dizer, mas de certa forma, ela que lhe dava tantas vezes com a morte, acabava apreciando a cena toda e lembrando-se de seu amado ainda perdido. Talvez ela fosse à unida a me compreender.