29 de outubro de 2011

Cap. 17 – Antoniette

¥ Svetlana Olen ¥

Dois dias se passaram e finalmente, às seis da manhã, retomamos a viagem. Meu pai estava bem disposto e havia aceitado a companhia extra de Bruno, já que na manhã anterior eu supostamente tinha sido assaltada na feira aberta da cidade. Após o escândalo de meu pai, o chefe da guarda apresentou o “guarda” Bruno.

Seguimos o caminho mais ao sul. A paisagem era admirável, embora muito diferente da maravilhosa terra em que cresci.

O outono nessa região me fazia lembrar os nossos verãos, ainda que as folhas já começassem à possuir tons dourados e quentes. O ar era mais leve e havia, sem dúvida, mais pessoas nos caminhos do que em Kupala Alka.




Bruno ia sob seu cavalo branco que por vezes, me olhava como se fosse humano. Ele me dizia que lhe foi dado pela sua esposa de presente de casamento. Sim, ele me falava desta mulher, mas me parecia pouco sensível a um sentimento que deveria ser grandioso e único.

- As coisas são bem mais complicadas do que aparentam ser menina!”, disse sem muita expressão no rosto.

- “Você a ama?”, perguntei sem cerimônia.

- “O amor é para as Verbenas!”, respondeu.

Rimos juntos e meu pai, olhando assustado com nossas risadas, logo depois soltou um sorriso de canto de boca. Provavelmente já estaria mecanizando em sua cabeça, idéias sobre casamento ao nosso respeito. 

Ao meu ver, o amor não era para nós Verbena como ele havia dito. Não ao menos desta forma unitária, que a sociedade nos impõe. Além do mais, há vários “tesouros” vitais que ainda não descobri e que clamam meu nome...

A viagem até Gênova foi tranqüila. Bruno me contara que Louis teria que partir, pois não podia se ausentar de sua matilha e que ele mesmo, depois de ter a certeza que estaria em Florença, voltaria para Avignon. Necessitava retornar o mais rápido. Tinha uma grande missão a cumprir.

Gênova
Pouco a pouco fui descobrindo que aquele homem não era tão introspectivo como acreditava ser. Nos dávamos cada vez melhor. Ele sempre falava de “destino”, “roda” com muita sabedoria. Acredito que isso era devido a idade, afinal era um homem formado com seus 28 anos!

Ele por vezes era sombrio, fazia coisas estranhas e até mesmo se machucava. Tinha cicatrizes que acreditava ser rituais.

Cicatrizes de Bruno
Suas idéias ao contrário, eram bem claras e limpas: “Vingança”.

- “Por que a vida lhe dá tanta amargura?” perguntei sem prudência nenhuma!

Ele me olhou e respondeu:

- “Louis era meu cunhado. Antoniette foi assassinada brutalmente por aqueles Magis sem pudor em busca de vingança. Ela era inocente e nem sabia nada sobre as outras realidades. Eles usurparam mediante tal violência com aquelas máquinas infernais que nós não podíamos fazer nada. Ausra me deteve e parte da sua matilha tinha sido morta. Tínhamos que voltar e eu deixar a roda da vida esmagá-la lentamente...”.

Antoniette

Tudo fazia sentido. Aquele homem e sua perda e “coisas são bem mais complicadas do que aparentam ser”.

- “Bruno, quando partirás?”, insisti em conversar.

- “Assim que você cruzar a ponte de Florença. Preciso pegar minha recompensa. Ausra me prometeu!”, completou.

- “E o que Ausra lhe prometeu?”, indaguei.

- “A minha dignidade de volta!”.
   
       
    

2 comentários:

Hugo Marcelo disse...

Oi Camila,

Adorei este texto.
Muito legal e as imagens são demais.

Acho que Louis está meio confuso entre Magos e dedaleanos... HEHEHEHE

Hugo Marcelo

dklautau disse...

A sra Ausra é uma garou? Ela tem matilha? Ou a matilha era do Louis? Se a sra Ausra for garou a minha compreensão dela muda bastante!

Será Bruno um euthanatos? O diálogo entre os dois foi muito bacana. Densidade sobre vida e morte, amor e desespero.

Abs