25 de outubro de 2011

Lições de Alquimia - parte II

   
Aurora observa atentamente os movimentos de Cosme enquanto sua voz irritantemente penetrante lhe perturba a mente. Aurora, há muito já não é mais uma garotinha mimada como no dia em que fugiu da casa de seu pai. Os anos e principalmente as aventuras que o destino lhe proporcionou fizeram dela uma mulher longe dos padrões florentinos do quattrocento. O vestido bordado com tecidos que deixaria qualquer mulher invejada, a fazia parecer uma verdadeira dama, uma senhora distinta, de família nobre, que firmou fortes alianças políticas e sociais ao realizar um bom casamento, esposa dedicada e mãe amorosa. Porém, debaixo daquela carapaça, se encontrava uma experiente e já não mais aprendiz solificati, a bruxa de florença, a curandeira poderosa, a mulher independente capaz de transformar a realidade num simples piscar de olhos. “ Por que não?”, pensou Aurora.


- Você também poderia ter sido como eu, caro primo, mas desperdiçou sua chance!

- Desisti dessa brincadeira de ser bruxo quando percebi, Aurora, que você era mais poderosa do que a minha imaginação. Não sei o que é, querida prima, mas tenho certeza de que existe mais, muito mais, por trás da mistura daquelas substâncias escondidas em seu laboratório. Nenhum material comum suportaria o fogo do maçarico que utilizei para tentar arrancar o cadeado de sua prateleira... e que tipo de vidro seria inquebrável???

- Eu não podia confiar em você, e eu estava certa, seu...

- Calma, priminha, calma, vamos logo ao que interessa. Te chamei aqui por que acredito que podemos nos tornar grandes parceiros. Não precisamos gostar um do outro, só precisamos fazer negócios.

- Fale claramente Cosmo, o que exatamente quer que eu faça e porque acha que eu aceitaria qualquer proposta que venha de você?

- Aurora, eu quero os meus, se preferir, os nossos cofres cheios de ouro! Quero que com sua bruxaria você faça do Banco dos Médici o mais rico de toda a Europa e que nossa família possa se perpetuar no poder de Florença pelas próximas incontáveis gerações! Pense Aurora, você não tem mais a riqueza de seu pai, e se bem a conheço, você não vai querer ficar à mercê da caridade dos Pazzi! Nunca serão nossos verdadeiros aliados. Nós somos o futuro dos Médici em Florença e precisamos unir forças! Faça nosso banco prosperar, Aurora, e encontrará em mim, seu parente, sangue do seu sangue, um futuro promissor para você e para seus filhos que nunca estarão desamparados. E haverá, nessa sala, um assento reservado à espera do futuro senhor de Florença Pietro di Médici.

- Você sabe bem o que está me propondo Cosme? Pietro ainda é uma criança, mas eu posso querer usufruir de nossa aliança muito em breve!

- Só depende de você, querida prima.

Enquanto Cosme observava com olhos incrédulos e tremendo dos pés a cabeça, Aurora desenrola de suas próprias mãos um pergaminho de couro e uma pena, molhada com uma tinta dourada:

- Não vá borrar as calças, priminho. Assine aqui!

- Mas onde estão os termos do acordo, eu não os vejo! O pergaminho está em branco!

- Pobre adormecido! Confie em mim, Cosme!

Enquanto sua ganância fala mais alto que sua tenência, Cosme assina o pergaminho.

Como num passe de mágica, o pergaminho se esfumaça. Aurora deixa a sala de Cosme, que se joga em sua pomposa cadeira, ainda zonzo devido à tão esperada negociação. Enquanto Cosme se perde em vislumbres do seu próspero e imperioso futuro, um grito o traz de volta à realidade:

- Senhor Cosme, senhor Cosme...

- O que foi guarda!

- Venha, corra, acho que estamos sendo assaltados. Ouvimos um forte barulho no cofre...acho que conseguiram roubar as barras de ouro do banco.

Cosmo não acreditava no que ouvira,e no mesmo momento pensa no pergaminho de Aurora, já com um profundo arrependimento invadindo sua alma. Desce as escadas correndo, com as chaves do cofre. Suas mãos trêmulas mal conseguiam encontrar o miolo da fechadura: “Como me explicarei a meu pai?”.

Ao abrir a porta do cofre, Cosme perdeu a respiração: as barras de ouro haviam se multiplicado, umas sobre as outras, imensuravelmente, de forma que ele seria incapaz de contar e calcular.

5 comentários:

dklautau disse...

D. Fabiana Klautau, muito boa essa postagem (até parece que eu não li antes, rsrsrsrs).

Grande Aurora! desconfio que a riqueza dos Médici então veio de um acordo entre Cosme e sua prima bruxa.

Só tem que arrumar as datas para ver quando nasceu o filho Pietro Médici.

Deixe os vampiros para Abdul, os espíritos para Heráclito e os lobisomens para Svetlana! Controlar a família Médici é controlar a força mais poderosa de Florença no século XV. Continue assim! (não foi dica do mestre!!)

Beijos.

Hugo Marcelo disse...

Oi Fabiana,

Excelente texto.
Sinto que temos uma bela estratégia de batalha. Cabe a Aurora e Arthuro dominarem o cenário político de Florença...

Mais uma vez, parabens pelo texto.

Hugo Marcelo

Hugo Marcelo disse...

É tão bonito uma família unida...

Fabi Dias disse...

kkkkkkkkkkk...Valeu, Hugão!
Bjs

Camila Numa disse...

Mas oooooooooooolha quem apareceu por aqui!
Nossa querida Aurora!!!
Hahahahaha
A família Medice sem dúvida é uma família que ainda haverá de nos surpreender mais!!!
Beijocas!