Caminhar no inferno não é nada agradável. Mesmo para mim, que concentrei meus estudos nas artes da morte, estar ali era doloroso. Não falo de flagelos físicos – sim, eu os sentia, mas esse não era o pior dos meus problemas -, mas sim da angústia de pensar que poderia sentir aquilo para sempre. E foi assim que percebi qual seria o meu caminho.
Aquele momento era crítico. O entendimento sobre a situação era essencial para tudo o que iria acontecer a partir de então. Um grave conflito espiritual me atingiu e o perigo de ser dominado por Jhor era iminente. O ódio que sentia por Parmênides me esfomeava de vingança. Precisava voltar para fazê-lo pagar.
Lembrei que estava aos pés de Hades. Uma entidade de tamanha importância me recebendo no inferno? Mas, ele não apenas me recebeu. É verdade, ele me levou até lá. Desejava-me e traçou planos para mim. Então entendi que nada daquilo que desejava deveria ser obedecido. Não estava ali para satisfazer meu apetite ambicioso, pois algo muito maior estava em jogo: A roda da fortuna.
A dor diminuiu; o calor tartáreo me apascentou. Estar ali, de certa forma, era agradável. Se não fossem a dor das queimaduras, poderia dizer que estava em êxtase. Finalmente comecei a discernir que a boa-morte havia me visitado e eu não poderia estar num lugar melhor do que o próprio inferno para atingir meu diksha.
2 comentários:
Grande Laredo,
Excelente texto. Sombrio, denso, adorei!
Gostaria de saber o que é diksha e quem é Jhor.
Um grande abraço,
Hugo Marcelo
Grande Larêdo.
Outro texto de Heráclito que nos traz o misto de sofrimento e esperança, tormento e iluminação.
Obrigado pela oportunidade de conhecermos mais ainda Heráclito. Seus dois pontos estão garantidos!
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