O Imam Jafar se adianta em direção aos recém-chegados, os cumprimenta e se volta para Abdul e Ishmael ao perceber a tensão presente na sala.
-Caros irmãos Batini, peço desculpas pelo mau jeito. Acho que devo uma explicação à vocês. Há muitos anos o Cray de Constantinopla vêm estabelecendo um relacionamento com estes “filhos de Haqim”.
-Estamos nos associando à vampiros? – Questiona Abdul sem esconder sua indignação.
-Caro Abdul, não são vampiros comuns, são assamitas, mas um subgrupo muito especial.
-Subgrupo especial?
-Por que não nos sentamos e conversamos calmamente? – Disse Ishmael apontando para a mesa. – Abdul?
-Sim, Ishmael.
-Poderia me servir uma xícara de chá de pétalas de rosas?
-Sim, claro.
-Bem cheia, por favor.
-Vou pedir para os franciscanos trazerem um bule de água fervente.
-Eu agradeceria muito... Bismillah. – Faz um movimento e sua narguilé desaparece.
Todos se sentam em torno da mesa. O Imam faz um movimento com seu cajado e o portal se fecha.
-Há aproximadamente 50 anos conheci al-Arqam e um seleto grupo de assamitas que se aprofundaram no islamismo e queriam assumir o “legado de Haqim”, que bravamente lutou contra a opressão de Khayyn (Caim) [1] e criou o "clã assamita" com o objetivo de coibir os excessos de vampiros que causavam verdadeiros massacres para saciar sua gula. Em reação aos ataques sofridos pelos assamitas, bem como por outros inimigos, os vampiros criaram a Camarilla e secretamente organizaram um ataque ao “Monte Alamut”, tomando-o de assalto.
-Bismillah! – Disse Ishmael enquanto tomava seu chá.
-A Camarilla impôs o Tratado de Tyre, um acordo de paz considerado ‘desonroso’ por alguns membros deste clã, os quais preferiram o exílio à submissão, recebendo a alcunha de despojados.
-Interessante. – Disse Abdul enquanto coava mais chá.
-Estes nobres “Herdeiros de Haqim” estavam sendo perseguidos pela Camarilla quando procuraram a ajuda dos Ahl-i-Batin. Uma vez que concordaram em se abster de toda e qualquer “violência contra inocentes”, iniciamos uma parceria na luta contra nossos inimigos em Constantinopla, com excelentes resultados. Hoje, se a guerra está praticamente vencida é em grande parte graças ao seu empenho.
-Imam Jafar, mas então, como se “alimentam”? - Perguntou Abdul inseguro.
-Esta é uma questão importante. – Adiantou-se o assamita ancião. – Através da disciplina que aprendemos com o islã e das práticas meditativas do sufismo, com a ajuda de Allah (swt) conseguimos controlar nossa ‘sede’ e o sábio Imam Jafar encontrou uma alternativa para nos alimentarmos sem ter que ferir ninguém.
-Eu não compreendo.
-De acordo com a Shariá, para que a carne de um animal possa ser consumida, este precisa ser exsanguinado. Este sangue é recolhido, armazenado e ao invés de ser descartado, o Imam Jafar com seus poderes o transmuta em sangue humano.
-Dessa forma podem se satisfazer e sobreviver em paz. - Disse Jafar com um sorriso orgulhoso.
-Imam Jafar é muito generoso para conosco. Somos muito gratos e estamos muito satisfeitos com esta cooperação estabelecida.
-Vocês têm obtido êxito na luta contra os vampiros no oriente. – Perguntou Ishmael aparentando estar mais calmo e até esboçando um leve sorriso.
-Os vampiros são muito astutos. É muito difícil caçá-los, mas posso garantir que, hoje, Constantinopla não é mais o quintal dessas criaturas.
-Esta Falaqui [2] tem muita experiência na luta contra “criaturas da noite”. Tenho certeza que serão de enorme ajuda contra os cainitas de Florença.
Abdul ouve atentamente, mas não parecia estar muito impressionado.
-Confio totalmente na sua sabedoria e no seu julgamento, Imam Jafar. Mas, com todo respeito, aqui não é Constantinopla. Estarão lidando com vampiros ocidentais e... – Abdul é bruscamente interrompido por uma voz grave em tom ameaçador.
-A centenas de anos lutamos contra os “filhos de Caim”. Antes que o pai de seu pai, ou a mãe de sua mãe tivesse sido concebida, já estávamos na jihad. A tanto tempo empunho esta espada que nem sei o que significa ‘paz’. Já enfrentei tantos inimigos, já consumi tantos vampiros que até perdi a conta. Portanto, mago, não me diga quão difícil ou perigosos são os vampiros, apenas me mostre onde eles estão e permita-me fazer aquilo para o qual fui criado e que faço melhor.
-Contenha-se, Abisali. – Interferiu o ancião.
-São palavras corajosas, caro assamita. Veremos se estás à altura delas.
-Acho que talvez seja melhor nos apresentarmos antes de começarmos os trabalhos. – Interveio o Imam Jafar. – Estes são os Batini de Florença: Ishmael e Abdul Haseeb.
-Assalam-u-Alaikum. – Disseram enquanto faziam uma leve reverência.
Na seqüência, o Imam indicou o ancião, um homem de aspecto sofrido, com uma barba grisalha e rala, um olhar duro, quase cruel.
-Este é al-Arqam, o Silsila [3].
al-Arqam, Silsila |
Depois apontou um homem de porte avantajado, com aproximadamente 1,82m de altura. Estava apenas com os olhos à amostra e permanecia muito atento a cada movimento dos presentes. Quase imóvel, com sua mão sempre próxima da espada. Parecia um guerreiro muito bem treinado, de elite, como pertencente a guarda pessoal de um rei.
-Este é Husam al-Khalid, sua espada já derrotou mais inimigos do que muitos exércitos.
-Assalam-u-Alaikum. – Disse secamente e fez um rápido aceno com a cabeça.
Husam al-Khalid |
-Abisali Aiman al-Jamil, como ele mesmo disse, tem muita experiência na luta contra os cainitas. – Era um homem de estatura mediana, 1,75m, de porte não tão avantajado, mas parecia ser bastante ágio. Tinha o rosto completamente coberto por uma máscara, o que despertou ojeriza de Abdul. Aparentava ser corajoso, mas tinha um ar arrogante e, provavelmente, era um ser cruel. Os cumprimentou com uma leve reverência.
Abisali Aiman al-Jamil |
Em seguida apresentou Asadullah ibn Talib como estrategista militar e grande scholar islâmico conhecedor da Hadith. Um homem alto, 1,78m, de olhar melancólico, porém decidido. Estava vestido com ricas vestes e possuía uma postura de nobre, como um príncipe. Ostentava um colar de ouro, com o símbolo dos assamitas em um medalhão.
Asadullah ibn Talib |
-E esta é Sakinah al-Rashid, suas habilidades já foram o fator determinante para o êxito de várias operações. Tem se aprimorado muito na arte do Dur-An-Ki, a “magia de sangue assamita”. – Para surpresa dos magi de Florença, uma mulher alta, de 1,96m, magra, silhueta esguia, com a cabeça coberta por um hijab [4] volumoso. Com o olhar sorridente fez uma longa reverência sem dizer uma única palavra.
Sakinah al-Rashid |
O Imam Jafar cochicha algo no ouvido de Ishmael enquanto este fazia movimentos afirmativos com a cabeça e então se pronuncia:
-Caros amigos, por favor, sintam-se muito bem vindos ao ocidente. Nós os Batini de Florença somos muito gratos por sua disposição em nos ajudar com estes cainitas, Bismillah. O Imam Jafar está muito cansado e espero que não reparem se nos retirarmos. Estaremos muito ocupados nos próximos dias lidando com outras questões igualmente urgentes. O mal nunca descansa! Bismillah! Abdul é oficialmente o diplomata deste Cray, portanto o mais indicado para acompanhá-los nesta operação.
-Será uma grande honra para mim ser vosso guia em Florença e auxiliá-los em tudo que estiver ao meu alcance. – Disse Abdul com um sorriso amistoso.
-Que Allah (swt) os acompanhe! – Exclama Jafar em tom imperativo.
O Imam bate o seu cajado no chão e ele juntamente com Ishmael desaparecem.
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[1] Para conhecer a história de Haqim, visite a postagem Assamitas II.
[2] Os Assamitas se organizam em unidades similares aos bandos do Sabá, estes grupos são conhecidos como falaqui.
[3] São os anciões do clã, "Os Guardiões do Sangue". Agem como sacerdotes, instruindo os fida'i na "Trilha do Sangue" e guiando os rafiq nas pegadas do Ancestral.
[4] Traje tradicional islâmico feminino que observa as orientações para o vestuário do Corão.
3 comentários:
Salve Hugo.
Primeiro: a apresentação dos assamitas foi excelente. A imposição da honra dos séculos e do enfrentamento dos próprios demônios. Muito bom.
Segundo: a tessitura das relações entre os batini e os assamitas em torno no Islâ e de Constantinopla. Muito bem exposto.
Terceiro: Oficialmente, a Camarilla ainda não existia entre 1404 e 1417, e os Tremere ainda não tinham lançado a maldição nos Assamitas, e consequentemente Alamut ainda não havia sido destruída. Mas podemos reconsiderar e manter como você propôs.
Abs!
Grande Diego,
Inicialmente, muito obrigado por seus comentários.
É muito importante pra mim saber sua opinião e fico feliz que tenha gostado da articulação que tentei criar.
Acho que realmente eu me adiantei no tempo... :-)
Até poderia tentar remontar a história, mas se vc permitir esse anacronismo eu acharia bom!
Mais uma vez obrigado!
Hugo Marcelo
Ainda estou firme na campanha : "+1 assamita para Florença".
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