22 de outubro de 2010

Svetlana Olen ¥ Cap.4 - Eclipse

Svetlana Olen

 ¥ Cap. 4 - Eclipse¥

Os dias ao lado delas eram de pura adoração. Sentávamos por diversas vezes próximo ao rio, lago ou cachoeira, a fim de meditar e observar. Suas sábias palavras, mesmo que por hora bizarras, me motivavam e me engrandeciam. Nas danças, ritos, rezas, risos, fui me envolvendo e me entregando. Ouvia atentamente a cada discurso que era feito por elas. Descobri que acabei me encontrando ao ser achada por elas.
Às vezes me deparava sozinha no colo de Freya, ou andando ao seu lado sem que falássemos nada. Ela sabia o que pensava, brincada com meus medos, maltratava por vezes minha felicidade, mas sabia muito bem o que estava fazendo... crescer.
Mais uma tarde tinha chegado, e com ela o grande dia. Tive que falar com meu pai dizendo que queria ir para a casa da senhora Ausra passar o tempo que duraria a sua viagem para Florença. Inventei mil desculpas: que me sentia sozinha naquela imensidão que era nossa casa, que apesar dos inúmeros criados que tínhamos, não havia pessoas que me entendessem, que sentia e sofria com sua ausência, e necessitava de uma mulher mais próxima com quem conversar, que gostaria de aprender a cozinhar e de fazer ponto de cruz com ela. Com a maneira manhosa que aprendi a falar e explicando que melhoraria meus dotes de mulher para um futuro casamento, aceitou minha partida.
Eram 6 da manhã quando a minha carroça estava preparada para ir até a suposta casa da senhora Ausra. Saímos cedo, eu e Gorki, o cocheiro para evitar que cruzássemos com indigentes, ordem dada, é claro, pelo meu amado pai. Depois de 3 horas dentro da mata, com muitos problemas, inclusive a roda rachada e que teve que ser consertada, chegamos. Ela veio me recepcionar anciã, mas com o grande sorriso caloroso de sempre.
Depois de alimentar Gorki, despedi balançando um lencinho enquanto ele acenava com uma dor no peito e eu com um grande sorriso no rosto. Quando a carroça estava longe o bastante, senhora Ausra que sempre ficou ao meu lado, voltou a ter odor de pêssego em sua pele. Lá estava ela novamente me olhando com o seu rosto vistoso da primeira vez que a vi.
Ao entrar em sua casa, senti o perfume de flores. Ela era, Freya me esperando.
Chegou a hora, minha menina. Hora de evoluir!”.
Caminhamos por dentro da mata ainda por mais algumas horas. Pegamos em seguida um barco que se movia sozinho durante a canção de Senhora Ausra. Freya surgia e esvaecia no leito do rio. Quando as sombras das árvores já estavam ficando mais longas e escuras, Freya nos esperava no outro lado do rio.
Ao caminhar mais uma vez, nos deparamos com o encontro do verde do rio com o azul escuro do mar. Com canções místicas, foram chegando mais outras magi. Inclusive aquelas que estavam no dia em que minha realidade se tornou real. Ao olhar no litoral da praia, haviam algumas dezenas de mulheres semi-nuas. Todas foram entrando na água, pouco a pouco. Uma atrás da outra, e desaparecendo...

Senhora Ausra me empurrou e sorrindo disse: “é agora!”. Retirou minhas roupas e disse para seguir-la. Fui atrás dela com muita cautela. A água não parecia me molhar, apesar de me tocar. Fui seguindo o declínio da praia até ela me tomar por completa. Com mais alguns metros, chegamos em uma entrada mágica com cheiro de vida. Uma pequena cascata brotava uma água azul e o vento lá dentro fazia dançar meus cabelos. Lá atrás uma luz brilhava forte com uma música que parecia reconhecer, apesar de nunca tê-la ouvido antes. Neste momento estava sozinha. Nas paredes pude notar textos escritos que me fizeram compreender a minha razão de ser e viver.  Me emocionei e até chorei com felicidade sabendo o que me tornara.
Foi aí então que segui para o grande salão e antes de entrar, no pórtico de entrada esculpido com pedra e gelo, estava escrito: Eska, para a Lua.
Ao cruzar a entrada, senti um frio e um grande desejo em mim. Uma delas se aproximou e me desenhou na testa a lua cheia, lua na qual nasci e despertei. Haviam flores e frutas em grandes bancadas. Estamos preparadas...
Rajadas de vozes e vento quente ecoavam fora do grande salão em minha direção. O medo na hora não me afetou. Sabia que era algo bom que iria acontecer...
Ao entrarem no salão, foi possível ver homens semi-nus, isso sim me fez prender a respiração. Até então, nunca tinha visto nenhuma canela de um homem, a não ser aquela de meu pai. Em seus corpos, todos marcados com uma espécie de desenho: um grande sol queimando intensamente. Observava com cuidado seus corpos e percebi que apesar do desenho ser o mesmo, a sua posição variava em costas, pescoços, braços, pernas. Mais tarde compreendi que eram todos magis de Eskra, do cray de Eskra.
Um grande um homem, alvo, entrou em uma das câmaras secretas com Vitalija. "Esta era a propetora do Cray", disse Sernhora Ausra, aparentando ser mais jovem do eu. Todos estávamos voltados para a porta com a cortina de água que se fechou logo após as suas passagens. O silêncio foi quebrado somente depois de 1 hora, quando Audrius, o alvo homem, com Vitalija, ambos exalando vida e transpiração, com uma música no som de flautas e tambores...
Senti então o desejo mais ardente dentro de mim... percebi que não só a música estava me envolvendo, mas a mão daquele homem também... Seus braços eram morenos, seu rosto com traços grosseiros, apesar de seu nariz ser fino e ser super sensual. Meus dedos apertavam seus cabelos, ele se embevecia de meu corpo. Sentia a sua áurea, seu ser pulsando no meu, nossos suores se melavam, nossos corpos se comunicavam. Me senti potente, calma, mas ao mesmo tempo tão forte e ligada a uma pessoa que jamais havia imaginado antes. Por hora Freya me observava de longe, por hora estava mais perto, sorrindo maliciosamente para mim.
Em um ápice de desejo, senti minha alma indo para fora daquele lugar, flutuando com a alma dele, subindo para o mar. Vi o céu sombrio e a lua sendo engolida pela sombra do sol... naquela noite, um eclipse era determinado para o grande encontro.

Depois de estarmos hipnotizado pelo prazer, viver sabendo o real motivo da vida, depois de trocarmos batimentos, respirações, transpirações e sentimentos, voltamos calmamente para nós mesmos. Todos em nossa volta também estavam voltando para si. Vitalija apareceu mais uma vez, celebrando com Audrius e sorrindo para todos.
Naquela noite, me senti viva, fui correspondida sensorialmente e sentimentalmente por aquele homem, que nem ao menos sei o nome. Mas nossos destinos cruzaram nesta e em outras noites em outros encontros de Cray...

2 comentários:

Hugo Marcelo disse...

Grande Camila,

Muito interessante seu texto...
Parabéns!!

Estou ansioso pra entender melhor quem seria Vitalija e o homem que a acompanhava...

Hugo Marcelo

Camila Numa disse...

Obrigada Hugão e Diego!
Pena mesmo que o Filipe estava mal...
Ele ficou super ansioso de jogar...
Tenho medo do que vão ainda acontecer com a Svetlana, e não o que já aconteceu!
hehehehehehe
Mais um ou dois capítulos e acaba.
={
Depois tem a cena com o Pedro... dessa eu n esqueci!
=)