Svetlana Olen
¥ Cap. 3 - Despertar¥
[No primeiro gole, senti uma rasgada em minha garganta, com prazeres mútuos em meu corpo. Orgasmos de sensações, cheiros e visões ao meu redor. Começaram os estrondos de tambores acompanhados com cheiro de erva de fígado e tanino pelos ares... Rendi-me!]
Algo então tomou conta de meu corpo. Meus movimentos já não obedeciam mais o que desejava pensar em fazer, mas seguia o ritmo da música quente que ali se ouvia, sem ao menos ver de onde saía. As três magi, coloridas estranhamente e embaçadas, batiam palmas dançando ao meu redor e rindo de forma alta e medonha. Meus cabelos faziam desenhos no ar, eu babava em meu corpo inteiro, que agora este estava todo nu. Senti meus poros expelindo meu próprio sangue me deixando quase totalmente branca. Apesar da cena parecer algo demoníaco, era tudo divino!
Logo senti o cheiro de erva de fígado mais forte, até ficar completamente embriagada. Nessa hora percebi que fui levada até o dia de meu nascimento. Encontrei-me novamente dentro do ventre de minha mãe, mas com todos os sentidos e lembranças ativas. Minha sede de vida era tão forte, que precisava ser saciada. A energia que meu corpo necessitava a essa altura, era muito maior do que o cordão umbilical que me ligava a minha mãe podia me oferecer.
Aquela escuridão, umidade e espaço apertado estavam me sufocando, me deixando atordoada, sem ar. Minha fome de energia vital era tanta, que fiquei completamente desesperada. Com os movimentos rápidos, fortes e o vazio dentro de mim, me faziam gemer dentro dela. Debati-me até começar a sugar pouco a pouco da energia que havia ao meu redor.
Os fluidos que recebia eram imprescindíveis, apetitosos e pontuais. Sentia-me viva, excitada e potente. Meu pequeno corpo estava recebendo tudo aquilo que necessitava, todos os desejos e o vigor sendo absorvidos lentamente. Meu ser começou a explorar todo o ser de minha mãe, e a devastar toda a sua energia que ali existia. Era como se houvesse um caminho brando a ser cursado e que ao passar destruía tudo, consumindo de forma brutal aquela vida.
Dentro de mim, havia algo dizendo que era necessário ser feito daquela forma, era correto e vital. Depois de ter explorado e absorvido todo o corpo de minha mãe, havia outro a ser percorrido: o de minha irmã. Passei de um para o outro através de uma ponte e voando pelo corpo dela, fui passando por cada particularidade de sua pequena e curta vida, arrasando o seu ser novamente. Os campos de flores que haviam dentro dela e toda a luz, penetraram em meu ser de forma poética. Antes de sair pela luz azulada que radiava no fim de meu caminho, ela me sorriu pela última vez.
Soube então que elas tinham desaparecido. Não sofri em nenhum instante ao saber que fui eu a causa da morte de minha mãe e de minha irmã. A vida quis assim. Estava destinado a ser assim pra que meu corpo pudesse se ativar e assim nascer. Tenho certeza que elas também não sofreram. Estavam cientes de que algo maior haveria de acontecer...
Quando me deparei com toda aquela energia perto de mim, ao passar pela luz, fui cuspida, saindo entre as pernas daquela mulher, que ainda se encontrava de costa para as três magis perto da fogueira. Ao meu redor estavam duas placentas, sangue e um líquido viscoso, que ao mesmo ele lubrificava a minha pele e me protegia. Ela me levantou e me pegou em seus braços, me dando um beijo com lábios gelados.
Sentia-me confortável e bem comigo mesmo. O perfume de flores ao redor estava forte e seres pequenos, os mesmos dos meus sonhos, estavam lá, acompanhando meu nascimento. Todos com áureas coloridas sentados ou voando ao redor de nós. Encontrava-me extremamente suja e limpa. Chorei.
Ao me carregar para a água do lago gelado do condado de Kupala Alka, antes jamais visto por não despertos, pousou-me e me fez flutuar sobre a água como se pudesse me sentir na barriga de minha mãe, distanciando-me dela.
A sensação de calor e vida era indescritível, a calma tomou conta de mim. Sentia minha própria pele respirar, e a lua que, hora antes não estava lá, banhava meu corpo inteiro. Sua luz penetrava em cada partícula que havia dentro de mim...
Peixes me rodeavam, borboletas e vagalumes brincavam ao meu redor. Polens de flores dançavam no ar e chuvas de estrelas dilaceravam o céu.
Ao me deparar com o luar, percebi que a lua passava de fase em fase: do crescente côncavo, ao crescente convexo, ao minguante convexo e ao minguante côncavo como se houvesse um anel no céu. Na medida em que ela girava e crescia e diminuía, meu corpo ia se metaforizando.
Encontrei-me novamente com aquele corpo de antes, já desenvolvido como o de uma mulher. A lua estava escondida novamente. Era hora. Me levantei e fui ao seu encontro. Ela me esperava na borda do lago, em pé, seguida pelas magis lá trás.
Ao me aproximar, me abraçou e disse-me: “Até que enfim, minha menina!”. No seu tocar pelo meu corpo, entendi. Era Freia, também conhecida como Freya, Freja, Freyia ou Frᴓya. Apesar de sua estatura baixa, se antes acreditava que Senhora Ausra era o ser mais belo em toda a terra, tive a CERTEZA que Ela era quem reinava em todos os reinos sendo a mais bela. Sua beleza real era tanta que podia ser sentida pelos 5 sentidos:
- Audição: surgiam sonoridades delicadas em sua presença que nos hipnotizava;
- Odor: era capaz de produzir o cheiro sensual e sexual de seu corpo e envolver a todos os seres ao seu redor;
- Paladar: fazia-nos salivar com o surgimento imaginário de gosto de frutas servida somente a deuses que evocava sua pele;
- Visão: entorpecia-nos, causando gozos de prazeres;
- Tato: era capaz de nos fazer tocar a nós mesmo, querendo fazer sexo em prol da vida.
Era possível notar flores raras em seus cabelos além de um sortilégio em seu sorriso. Ao me olhar outra vez, derramou uma lágrima em seu rosto que se petrificou em ouro ao cair no chão.
Nossas mãos se entrelaçavam, nossos olhares se compreendiam. Ela era minha nova mãe, um novo eu, que sempre esteve dentro de mim, e eu dentro dela. Vi em seus pensamentos, os quais ela me permitiu:
- Cena 1: com Odur¹, seu marido perdido e sua angústia de tentar encontrá-lo correndo, voando ou vagando no céu e no inferno. A vi dentro d´água enquanto suas lágrimas ali se transformavam em âmbar dado seu sofrimento pela sua ausência;
- Cena 2: tentando se acalmar e se satisfazer, ia ao encontro de Deus Loki². Entorno a eles haviam fogo e água se misturando enquanto eles se consumiam com fervor;
- Cena 3: ela fazendo sexo com quatro anões com muita aptidão e depois eles a presenteando com um certo colar³.
- Cena 4: nos períodos de outono e inverno, dias frios, sofrimentos, desespero, dores e traições com Loki, gigantes4, anéis e ouro. Logo em seguida, na primavera e verão, luzes, calor, alegria e risos.
- Cena 5: ela guiando almas perdidas depois de longos combates, junta com várias outras mulheres quase tão bela e forte quanto ela.
Ao me afastar, a olhei e sorri. As magis me olhavam orgulhosamente com aparências agora envelhecidas e semi-nuas. Percebi que havia consumido também parte de suas energias. Os seres que ali estavam, brilhavam menos, mas sempre se maravilhavando com a sua presença. Era hora. Ela adentrou em mim e submergiu.
Foi assim que meu amor por ela imensuravel, se tornou enfim consciente e incandescente.
Foi assim que meu amor por ela imensuravel, se tornou enfim consciente e incandescente.
Freia e os Gigantes |
8 comentários:
Oi Camila,
Parabéns pelo texto, muito legal!!!!!
Adorei as Cenas 1-5.
Atenciosamente,
Hugo Marcelo
Obrigada Hugo!
Temos vários pontos pra distribuir agora, né?
=)
Té sábado!
Grande Diego,
A bolsa-prelúdio é tudo de bom...
Hugo Marcelo
Eu ainda não sei quem é Vitalija?
Hugo Marcelo
NO PRÓXIMO CAPÍTULO VAIS SABER QUEM É ELA HUGÃO!
=)
OBRIGADA DIEGO.
FIQUEI EMPOLGADA AGORA...
VIVA BOLSA PRÉLUDIO!!!
ATÉ DEPOIS DE AMANHÃ!
Oba, então a saga da Svetlana não terminou...
Hugo Marcelo
Falta ela conhecer o cray e receber a missão pra chegar em Florença.
^^
Bjs
Que bacana!
Hugo Marcelo
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