3 de março de 2012

Círculo Hipocrático (Cosianos)

Nenhuma Arte ou ciência é tão vital (mas problemática) quanto as que envolvem o corpo humano. De acordo com o Gênese, Deus criou o Homem à sua imagem e deu-lhe o domínio sobre a Terra; por outro lado, Ele também amaldiçoou os filhos de Adão e Eva e deu ao Demônio domínio sobre eles. Dessa forma, o corpo é ao mesmo tempo sagrado e impuro, um espelho da Divindade mas hospedeiro de desejos e doenças. Para trabalhar com tal quadro, um magus precisa ser corajoso, sábio e irreverente. Os Medici do Círculo Hipocrático são tudo isso e um pouco mais. 

Muito tempo atrás, os curandeiros como Imhotep, Wang Wei-i, Herófilo e Hipócrates estabeleceram grandes escolas de medicina. Além das técnicas mortais, esses mestres Iluminados foram os pioneiros em Artes especiais e passaram-nas para seus melhores estudantes. Hipócrates estabeleceu uma guilda especial com esses curandeiros na Grécia; chamada de Círculo Cosiano, essa academia tratava das doenças, procurava a imortalidade alquímica e encorajava a educação e a vitalidade. Esse Círculo também tinha seu lado sombrio; as lendas afirmam que uma guilda dentro da guilda buscava um segredo que Hipócrates proibiu: a criação de vida nova. Para esse fim, os médicos dissecavam criaturas vivas e misturavam-nas com humores estranhos. Câmaras sob os salões das guildas abrigavam resultados deformados: criaturas que ocasionalmente eram enviadas para matar os inimigos do Círculo. 

Quando Roma caiu, o Círculo foi desfeito e seus segredos foram espalhados. No Oriente Médio e Extremo Oriente, algumas guildas preservaram as Artes, mas na Europa elas foram praticamente perdidas. Em Bizâncio, uma única escola preservou as técnicas Cosianas. Quando as Convenções reuniram-se, diversos Cosianos restauraram o Círculo Hipocrático e devolveram essas Artes à Europa. 

Isso aconteceu na hora certa; a epidemia de pestes que arrasou a região manteve ocupado o punhado de novatos Cosianos. A medida que as doenças se espalhavam, o mesmo acontecia com os centros de cura Iluminada. Entretanto, a natureza curiosa e irreverente de suas Artes logo levou os médicos a entrar em conflito com a Igreja, e os curandeiros perderam freqüentemente. Hospitais foram queimados, muitas vezes junto com pacientes e Cosianos. Agora o Círculo esconde-se por trás do labirinto das universidades e clínicas temporárias. O Brandenburg Krankenhause, um grande hospital protegido pelo Sacro Imperador Romano, fornece o único local "aberto" para os incógnitos Cosianos. Em todos os outros lugares, eles encobrem seus ensinamentos com simbologias e passam-nos para seus alunos mais talentosos. 

Embora médicos mortais estejam perdidos no escuro (ver "Medicina Moderna", página 208), os doutores Cosianos preservam as práticas avançadas dos curandeiros egípcios, gregos e árabes — e desenvolvem-nas. Como os quatro humores, o corpo Cosiano segue quatro funções: a Casa de Mandrágora estuda herborismo e agricultura; curandeiros viajantes da Casa do Fogo aliviam pestes e isolam doenças; a Casa dos Livros preocupa-se com o ensino e o estudo, enquanto a temida Casa das Lâminas se especializa em cirurgia. Fora da ordem, uma "casa menor" de não-médicos, os guerreiros Phylaxoi, protege os curandeiros, e uma guilda alquímica secreta, a Casa de Olimpo, conduz experiências secretas com a imortalidade e criação. 

O mundo Cosiano é uma mistura estranha de experiências repletas de sangue feitas por parteiras, herboristas e cirurgiões-barbeiros, as obras eruditas de médicos-astrólogos da corte e os experimentos metódicos de botânicos e dissectores. Um Cosiano se envolve com seu trabalho de uma forma perturbadora e muitas vezes relata sua pesquisa com detalhes de revirar o estômago. Um teórico acadêmico passa grande parte do seu tempo entre plantas e cartas celestes; o perseguidor de pestes viaja grandes distâncias em busca de epidemias; o anatomista vive em cemitérios e porões cobertos de sangue. Essa Convenção atrai todo tipo de pessoa, e alguns são extremamente perturbadores. É preciso inteligência, obsessão e empatia para questionar a obra de Deus. Um médico Cosiano considera tais questões apenas um começo... 

Filosofia: Da mesma forma que um carpinteiro trabalha com a madeira ou um pedreiro com o mármore, o Cosiano trabalha com plantas, carne e sangue. A Divindade abriga-se no mundo natural. O que não podemos catalogar, criamos com segredos descobertos no enigma de Deus. Nosso mundo é a encarnação de Deus — um milagre, não uma prisão. 

Estilo e Ferramentas: Baseadas em práticas pagãs e pesquisas profanas, as Artes Hipocráticas investigam os padrões da vida, decifram-nos e utilizam-nos para fins maiores. Ervas, poções, membros artificiais e ferramentas cirúrgicas perfazem o "kit" de um Cosiano. Com tais maravilhas, ele pode curar pestes, tratar de infecções e criar homúnculos, plantas vivas, criaturas prodigiosas e poções de longevidade. Dependendo da disciplina e personalidade do curandeiro, ele é capaz de curar, alterar ou corromper a maioria dos seres vivos. 

Organização: A maioria das casas consiste de locais para reuniões secretas em universidades ou hospícios estabelecidos. Os Cosianos que comparecem seguem a estrutura de títulos comuns dos Dedaleanos, mas referem-se aos Resplandecentes como Medici, os Honori como Doctori, os Magistrados como Praeceptori, e os Maximi como Proavus (Avô) e Proavia (Avó). Dentre todas as Convenções, os Cosianos provavelmente são os que mais respeitam seus membros do sexo feminino. 

Por mais avançados que sejam para os padrões mortais, os Cosianos ainda seguem o modelo greco-romano de medicina. Duas Convenções rivais, a Casa de Hua T'o chinesa e a Casa da Piedade árabe desprezam os Cosianos e em troca também são desdenhados. Embora alguns médicos radicais estudem dois ou três estilos de cura, a maioria defende a superioridade de sua Arte cultural e rejeita as outras. 

Maximi: Proavus Marcus Sarda e Proavia Judith Miller. 

Iniciação: A maioria dos Cosianos segue o ofício familiar; no entanto, de vez em quando um novato de fora pode parecer promissor. Treinamentos e experiências extensivos fornecem ao mentor uma oportunidade de observar a Iluminação florescendo. Se o Despertar parecer iminente, o mentor envia o novato em alguma missão traumática e testa-o quando ele retornar. Se for bem-sucedido, ele se junta aos Medici; caso contrário, continua como um curandeiro importante mas mundano. 

Daemon: Embora a maioria dos Cosianos veja seus guias como médicos fantasmagóricos, alguns interagem com anjos com os Deuses Antigos da cura (Eles mantêm essas interações em segredo!). 

Afinidades: Vida e Água. 

Seguidores: Fazendeiros, mercenários, leprosos, nobreza em débito, antigas "experiências". 

Conceitos: Médico, parteira, doutor maluco, cirurgião, artista, herborista, zoólogo, treinador de animais, alquimista, curandeiro de pestes. 
  
 
Estereótipos

Magi do Conselho: Embora seja verdade que nosso caduceu compartilhe uma serpente com os assim chamados "Verbena" (nome de uma erva medicinal — que curioso!), o resto desses Dolorés são tão ignorantes quanto joaninhas! Eles preferem balançar ossos e cantar hosanas do que pesquisar as causas verdadeiras das doenças. Que alguma doença contamine todos eles! 

Dedaleanos: Como nós, esses companheiros fazem pesquisas para um amanhã melhor. Ao contrário de nós, eles permitem que a sensibilidade acabe com suas maiores descobertas. 

Infernalistas: Membros leprosos do corpo do mundo. 

Discrepantes: Deixe que eles brinquem nos campos cultivados. Eles não nos prejudicam. 

Desauridos: As minhocas em seus cérebros certamente são contagiosas!

 

Ah, vida! Tamanha diversidade de esplendores!



   
Referência bibliográfica
BRUCATO, Phil. Mago: a cruzada dos feiticeiros. São Paulo. Devir. 2002.


2 comentários:

abssyntho disse...

Muito legal seu blog. Lembrei das minhas saudosas sessões de Cruzada dos Feiticeiros.

Hugo Marcelo disse...

Oi Abssyntho,

Fico feliz que nosso Blog lhe traga boas recordações.

Um grande abraço,

Hugo Marcelo