2 de dezembro de 2011

Bem aventurado Abdul Alim


Abdul Aalee e Abdul Alim eram irmãos. Na verdade, meio-irmãos entre outros. Unidos pelo sangue de Abdul Haseeb, chefe de uma numerosa família ao lado de quatro esposas. Tinham a mesma idade. Brincavam juntos, comiam  juntos e iam à mesquita, juntos. Dormiam separados.


Sempre sorridente, Abdul Aalee era feliz. Estava sempre pronto a ajudar seu pai na loja. Mercadorias vindas do oriente, ou de Andaluzia, sempre chegavam a todo instante. De tanto lidar com mercadores e viajantes, estava se tornando um grande negociador. Não era fácil encontrar alguém fluente no latim e árabe. Bilíngue. Gostava de viajar. Sempre que seu pai lhe permitia juntava-se às caravanas. Ansiava conhecer a cidade de Córdova. Veneza, Milão e a Toscana eram-lhe bem familiares. Sempre teve muitos amigos.

Abdul Alim era diferente. Introvertido. Preferia a companhia das plantas, colher frutos. Cuidar da horta. Passar o dia inteiro no pomar, ouvindo o cantar dos pássaros era de seu agrado. Mais reservado, nunca transparecia o que sentia. Era um bom muçulmano. Nunca caluniou ninguém, nunca levantou falso testemunho, nunca roubou e nunca matou. Abdul Alim tinha inveja de seu irmão.
  
Um dia Abdul Alim acordou. Estava farto daquela vida. Trabalhar no campo o deixava dia-a-dia mais rude, suas mãos calejadas e seus pés rachados. “De hoje em diante, minha vida será diferente, Bismillah!” Bradou confiante.

“Mas, como?” - Pensou. “Claro!” - retificou. Falaria com seu pai. Abdul Haseeb compreenderia sua situação e lhe daria outras tarefas. Gostaria de trabalhar junto à comunidade islâmica da Toscana. Propor, talvez, a criação de uma colônia agrícola islâmica. Seu olhos se enxeram de lágrimas. “Obrigado, Allah (swt)”. Abdul Alim se dirigiu à bilioteca. Pegou o sagrado Corão.

Dirigiu-se ao chafariz no átrio central da “casa”da família. Procedeu abdulação. Uma estranha calmaria imperava naquele jardim. Estranhou. Olhou para o céu. Voltou-se para Mecca.

Abdul Alim deixa o sagrado Corão cair. A tarde estava nublada.

4 comentários:

Camila Numa disse...

É agora a hora Hugo?

=***

Hugo Marcelo disse...

Apenas Allah (swt) sabe a hora.

dklautau disse...

Treinando criar expectativa doctor? As descrições dos dois ficaram muito boas!

Hugo Marcelo disse...

Oi Diego,

Acho que não há mais expectativas para Abdul Alim.