No dia seguinte à batalha final contra “A Maldição de Dante”, Abdul descansa tranquilamente em sua casa quando alguém bate à sua porta...
-Querido?
-Sim, minha flor de Florença.
-Tem uns franciscanos querendo falar com você.
-Diga a eles que estou descansando e que só retornarei à Santa Croce na próxima lua. Qualquer problema que reportem ao Arthuro.
-Abdul, eles sabem disso, mas insistem em falar com você.
-Nem mesmo Saladino e seu exército me fariam descer lá em baixo pra falar com esses monges. – Disse enquanto fazia uma careta para suas filhas, que retribuíram com sonoras gargalhadas.
-Benzinho, que indelicadeza é essa! Por favor, vá lá e converse com eles. Parecem estar aflitos. – Disse sua esposa, Bahiya Malika, descontente.
Abdul dá um suspiro e exclama desanimado: tá bom.
Ao descer pelas escadas avista dois franciscanos de pé em sua sala, com semblantes muito sérios.
-Boa tarde, senhores.
-Desculpe-nos vir até sua casa e atrapalhar seu descanso, senhor Abdulaziz, mas é que chegou esta mensagem para o senhor.
O monge enfia sua mão esquerda dentro da manga contra-lateral de seu manto e retira um pergaminho.
Um frio intenso percorre a espinha de Abdul ao reconhecer o selo dos Batini.
-Senhor Abdulaziz? O senhor está bem?
-Sim, sim... Está tudo em ordem. Quando chegou esta mensagem?
-Ela apareceu em sua mesa ha 15, no máximo 20 minutos atrás.
-Vocês agiram bem, obrigado.
-Nós é que ficamos felizes em servi-lo.
-Que a paz de Allah (swt) vos acompanhe, discípulos de Seydna Issa [1].
Abdul os acompanha até a porta da rua, depois senta-se em sua poltrona e cuidadosamente abre o invólucro da mensagem.
-Querido, o que aconteceu?
-Nada, nada.
-Como “nada”? Benzinho, você está me deixando nervosa.
-Querida, peça para selar meu cavalo. Estou indo para Santa Croce.
Abdul sai correndo para os fundos da casa, depois retorna.
-Retiro o que disse. Eu vou para a casa de Ishmael... – Apressadamente se dirige para a porta da rua.
-À cavalo?
-Não, à pé. Preciso pensar...
-Abdul!
-Hum?
-Você vai descalço?
-Não, claro, obrigado querida. Bekhátteric [2].
-Bekhátterac [3].
Ao chegar na casa de Ishmael, encontra na calçada, parado defronte o portão, seu mordomo.
-Assalam-u-Alaikum, Abdul. Meu senhor está a sua espera. Por favor me acompanhe.
Abdul o acompanha até sua sala de reunião, no segundo piso.
-Ahla u sahla [4], Abdul. Por favor sente-se, prove desta erva. É maravilhosa! – Disse enquanto gravemente fumava seu narguilé.
-Então, você já está ciente? – Disse enquanto mostrava o selo dos Batini na mensagem.
-O que será que ‘ele’ tem em mente, Ishmael?
-Não sei. Mas ‘ele’ não ficou contente do inferno quase se abrir em Florença.
-Como ‘ele’ soube?
-Ressonância da batalha de San Lorenzo. Se vocês tivessem demorado mais 15 minutos todos os Batini do Cray de Constantinopla viriam para Florença. Já imaginou? – Seguiu-se uma gargalhada que desconcertou Abdul.
-Ele está zangado?
-Não... Talvez. – Requisitou seu narguilé e deu mais uma tragada.
-O que faremos!? – Exclamou Abdul aparentando preocupação.
-Pétalas de rosas.
-Como?
-Ele adora chá de pétalas de rosas. Não deixe faltar chá de petas de rosas.
-Devo preparar uma recepção no Cray?
-Sim, sim, sim! Ofereça um jantar de boas vindas na Santa Croce e convide os magos. Infelizmente os “Cavaleiros de Florença” não poderão estar presentes. Muito trabalho…
-Devo contar para os magi sobre esta “mensagem”?
-Não, não, não. Isso é um problema interno dos Ahl-i-Batin.
-Começarei imediatamente a organizar a recepção.
-Faça isso, Abdul. Faça isso…
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[1] Senhor Jesus, considerado um grande profeta pelo islã, o profeta da interioridade, da santidade.
[2] Até logo em árabe (para mulher).
[3] Até logo em árabe (para homem).
[4] Seja bem vindo em árabe.
3 comentários:
Opa. Continas trabalhando bem com os diálogos. Fiquei instigado em saber do que se tratará nessa reunião com o imã de Alamut!
Abs
Oi Diego,
Este imã é de Constantinopla.
Acho que você quis dizer monte Qaf.
Abs
Hugo Marcelo
Ops... Imã do monta Qaf.
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