Confesso que fiquei quase emocionado ao ler o texto Encerramento do Tomo I – Palavras do Narrador. Parece que foi ontem que me convidou para fazer
parte de uma mesa de RPG. Eu estava na época com 31 anos e nunca tinha jogado este jogo,
o qual só conhecia de nome. Embora tenha concordado em participar, inicialmente
não sabia exatamente do que se tratava. O narrador me emprestou o livro “Mago:
cruzada dos feiticeiros”, mas foi numa conversa por telefone que acordamos que eu
seria um Batini.
Inicialmente pensava que seria algo divertido mas meio infantil. Mas percebi o quanto estava enganado ao ler a Ambientação. Um texto bastante consistente, um verdadeiro trabalho de historiador, no qual descrevia a realidade de Florença do séc. XV: a geografia da cidade, seu sistema político, a organização dos profissionais em guildas, as principais famílias e a igreja com suas ordens religiosas, seus conventos, suas obras de caridade... Fiquei maravilhado!
Aos poucos fui percebendo a complexidade do jogo e a incrível
verossimilhança com o mundo real, onde qualquer movimento impensado poderia
trazer graves consequências.
Uma vez que se tratava de um muçulmano numa cidade renascentista, para
construir meu personagem procurei estudar um pouquinho sobre a cultura árabe e
o islamismo, um universo, por mim, totalmente desconhecido. Uma das primeiras
coisas que descobri foi que normalmente os nomes árabes são bem mais extensos
do que os ocidentais. Daí optei pelo nome Abdul Haseeb Muhammad Abn Abdulaziz.
Abdul Haseeb significa “servo do respeitável”; Muhammad, nome do profeta e um
nome muito comum no oriente médio e abn Abdulaziz, significa filho de Abdulaziz,
outro nome muito comum no mundo árabe. Tentei arquitetar um prelúdio excessivamente
ambicioso que não consegui terminar. Bem, deixo a cargo do leitor completá-lo
com sua imaginação...
Ao longo deste RPG Florentino tivemos grandes momentos. O narrador
com seu talento teatral nos brindou com plots shakespearianos, outros tolkinianos
e alguns quase hitchcockianos. Mas se tivesse que escolher uma sessão de jogo,
com certeza foi a do dia 03.10.2010, descrito em duas partes no blog. A
temática do inferno de Dante foi absurdamente intensa, ficava exaurido após
cada sessão de jogo. Foi demais. Na sua Parte I, é narrado um desentendimento
entre Abdul e o jovem eutanato Herácrito de Creta. Foi como se o mal do inferno
de Dante invadisse a nossa mesa, tamanho a “vivacidade” dessa cena. Pouco depois
Svetlana e Abdul assistiram um show de glutonaria demoníaca que culminou com o
leilão da própria mão de Svetlana, a verbena do jogo. O desfecho épico dessa
sessão está descrito na Parte II, onde Petronius (mago infernalista) e Cérbero, um monstro infernal de três cabeças, são derrotados.
Outro momento importante foi quando eu narrei uma aventura em duas sessões com a Cabala dos Magos Aprendizes (carinhosamente apelidados de “cabalinha”).
Embora tenha cometido inúmeros erros, nunca irei me esquecer de quando Dom Galvão discutia com Brunilda ou com Dilawar. Me diverti muito com esses diálogos (hehehe).
De fato, gostaria de
agradecer a todos que acompanharam nossas aventuras, os seguidores do Blog, os
visitantes esporádicos, nossos amigos, meus companheiros de cabala e um agradecimento especial para o narrador que perdeu
muito, muito tempo e energia montando este jogo. Sei que não foi fácil e espero
que de alguma forma tenha sido compensador.
Para concluir, gostaria de relatar uma pequena experiência que tive
com o narrador, uma lição que levarei para o resto de minha vida. Eu estava
muito triste com o fim do jogo que se aproximava. Confesso que me apeguei ao
personagem e, de certa forma, estava assumindo como próprias as realizações de
Abdul Haseeb, como sua família, sua comunidade, seu sucesso... Sabiamente, o
narrador, então, me disse que seria bom que o jogo acabasse. O objetivo de se
jogar RPG não é viver num mundo de faz de contas com suas realizações imaginárias,
mas sim despertar para algumas questões, aspectos da condição humana que devem
ser trabalhados e vividos no mundo real.
Um grande abraço,
Hugo Marcelo
(Abdul Haseeb)
2 comentários:
Grande Hugo. Nem sei como agradecer sua participação no jogo. Talvez enumerando um mínimo de 10 contribuições. Vamos lá:
1. Por ter aceitado se aventurar no imaginário de um jogo adolescente.
2. Por ter se permitido adensar o pensamento e a experiência da imaginação e da fantasia como caminho para a reflexão e a verdade.
3. Por ter feito o blog.
4. Por ter escrito prelúdios, interlúdios, magias, crônicas, o Florença by Night.
5. Por ter narrado a cablinha.
6. Por nos receber sempre em sua casa com generosidade e caridade.
7. Por sempre estar presente em nossas sessões.
8. Pelas conversas variadas que tangenciavam as nossas sessões.
9. Pelo empenho literário da escrita cuidadosa da sessões de jogo.
10. Pela amizade que se perpetua até hoje.
Esse é só o primeiro jogo. Ainda teremos outros. Que venha Constantinopla!!!!
Abs.
Grande Narrador,
Obrigado!
Hugo Marcelo
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