3 de dezembro de 2011

Bem aventurado aquele que ama a verdade


"Mas é exatamente o que eu estou te dizendo, Usman". Retrucou Giovanne. "O sagrado Corão é muito claro neste ponto. A sura al-Isra descreve que: Al-Buraq desceu dos céus e foi a montaria do profeta Muhammad (s.a.a.w.) durante a Jornada Noturna".

"Eu não estou dizendo que não ocorreu a Jornada Noturna, Giovanne". Ponderou Usman. "Apenas tenho dúvidas se al-Buraq realmente existiu, ou se seria uma alegoria."

"Se está descrito no sagrado Corão, é verdade".

"Que diferença faria para nós muçulmanos se al-Buraq não tivesse existido?"

"O que está escrito no sagrado Corão não está em discussão. Esta sua teoria é absurda."

"Mas Giovanne..."

"Você é muito letrado, senhor Usman. Mas está errado. Já conversou sobre isso com vosso pai? Tenho certeza que concordará comigo." Respondeu aparentando irritação.

"Está bem, Giovanne. Não vamos mais falar sobre isso."

"Acho bom mesmo. E peça perdão à Allah (swt) para que em sua infinita misericórdia te conceda a graça do perdão."

"Perdão do quê?" Indignou-se Usman.

"Da sua, sua... é..."

"Heresia?" Completou Usman aparentando uma paz inabalável.

"Isso. Sua heresia!" Sentenciou Giovanne orgulhoso.
 
"Está bem, Giovanne".

"Mudando de assunto. Sabes que hora vosso pai retornará? Gostaria de ir à mesquita hoje ao por-do-sol."

"Eu não sei Giovanne. Mas pode ir. Eu fico no seu lugar..."

"Não. Prometi à vosso pai que ficaria de guarda até seu retorno e é o que farei."
 
Giovanne não era um homem fino. Com seu porte físico avantajado, seu olhar duro, uma cimitarra na cintura e uma imensa lança em sua mão direita, assustava qualquer Florentino que ousa-se passar próximo à casa de Abdul Haseeb. Gabava-se de um dia, do alto das muralhas, ter visto três ladrões atacando uma carruagem a 100m de onde estava (a distância aumentava cada vez que repetia a história). Com sua lança, transfixou um deles. Os outros fugiram.

Inteligência não era uma de suas virtudes. Mas sua lealdade para com o senhor Abdul Haseeb era admirável  e sua fidelidade ao islã, inquestionável. Mas nem sempre foi assim. Há três anos era quase um mendigo, consumido pelo vício do álcool e do jogo. Todo dinheiro que ganhava tinha destino certo. As tavernas. Um perdulário incorrigível. Um dia Abdul Haseeb o encontrou bêbado. Literalmente na sarjeta. Esfaqueado. Abandonado para morrer. Abdul Haseeb o levou para sua própria casa. Cuidou de seus ferimentos. Depois conheceu Maha, reverteu-se. Casaram-se.

"A quanto tempo você reverteu ao islã, Givanne"?

"Dois anos, 4 meses e...  2 dias".

"Nossa, que precisão".

"Foi o dia mais importante de minha vida. Nunca me esquecerei."

"Já pensou em ir à Mecca".

"Por Allah (swt), isso é um sonho. Ir a Mecca com minha esposa Maha."

"Este sonho pode se tornar realidade mais cedo do que você pensa".

"Hã?"

"Como você já sabe, estamos organizando um grupo que peregrinará até Mecca. Quer vir conosco? Você e sua esposa?"

"Falas sério, senhor Usman? Eu não, eu não tenho condições de custear esta viagem".

"Digamos que precisamos de um segurança. Vossa esposa será nossa convidada."

"Allah (swt), al Kabir, al Karim". Entusiasmou-se Giovanne.

Giovanne está feliz. Mas a tarde, estava sombria.

2 comentários:

dklautau disse...

É doctor. Um revertido foi-se...

Hugo Marcelo disse...

Sim, foi-se.