3 de novembro de 2011

Capítulo 6 - A Boa Morte: parte I

O ritual começou. Deitado, eu estava dentro de um círculo de fogo e vozes desconhecidas falavam em línguas estranhas. Eu era o personagem principal daquele evento e nem mesmo sabia quem havia me convidado.
Um a um eles entraram no círculo sem sofrer incômodo pelas chamas. Dirigiam-se diretamente a mim e, com vasos cheios de líquidos estranhos - que exalavam o odor do anil -, untavam meu plexo solar. Por fim, quando três deles já haviam realizado sua parte no ritual, o último adentra o círculo, cercado por três pessoas – ou seriam zumbis? – carregando um braseiro, um punhal e uma pequena caixa.




- “Você aceita a morte, Heráclito de Creta?”, disse ele.
- Já disse que sim.
- Somos servos do Senhor do Inferno e estamos aqui para saber se você é digno de ser um seguidor de Clímeno. Você passará por três testes diferentes. Cada um deles desafiará um traço da sua personalidade. Apenas quando você conseguir matá-los, você poderá sentir o conforto da ascensão.

Já havia sentido lampejos dessa ascensão que eles falam? Tenho absoluta certeza que uma pessoa comum não passa pelas experiências que tenho passado nos últimos dias. Sinto que a realidade na qual estou vivendo pode ser modificada com facilidade, entretanto apenas nas estritas possibilidades do “ser”. Existe um sistema permite a percepção, recepção e interação de modo coordenado e, até mesmo, estrutural. Nada pode ser feito sem que o “ser” não permitem, enquanto que tudo pode ser modificado dentro da sua realidade. Chame isso de sorte/azar, bem/mal, redenção/condenação, etc. Não importa. Somente com o entendimento da mortalidade da carne é que a verdade pode ser descoberta. E é grosso o pano do véu da ignorância...

- “Que assim seja”, eu respondo.
- “Antes”, um deles fala, “precisamos prepará-lo”.

O punhal foi colocado dentro do braseiro e, em poucos minutos, brilhava como o fogo. Enquanto isso, versos foram cantados e substâncias jogadas nas brasas. Não compreendia o que diziam, mas, por certo, eram palavras de encantamento lúgubre. Também me pedem para que beba o líquido dentro 



Empunhando o punhal, um deles se aproxima e me pede para beber o líquido de um dos vasos. Eu bebo e percebo que aqueles lampejos de compreensão se tornam parte de mim como um todo, e sou levado em uma viagem à outras realidades possíveis.     
   
    

2 comentários:

Hugo Marcelo disse...

Grande Laredo,

Muito bacana esta postagem.
Estou ansioso pra descobrir quais seriam estas outras realidades a que Herácrito teve acesso...

Um grande abraço,

Hugo Marcelo

dklautau disse...

Dom Filipe,

Os capítulos estão como prelúdios de fato das narrativas de Heráclito. Está muito interessante vê-lo como arquimago e ao mesmo tempo vê-lo despertando. Existe uma simetria entre a mesa e os capítulos. Muito bom!