Capítulo 3 - Os chacais da savana

Acordei. Fiz a pergunta que frequentemente as pessoas se fazem quando acordam sem saber onde estão. Sem saber a resposta, passei a buscar alguma visão que me recordasse. Nada.

Estava no meio de uma savana. Árvore alguma me cercava. E o único som que escutava era o de abutres que sobrevoavam acima de mim.

Olhei para o chão e vi terra batida e misturada com sangue velho e novo. Meus pés não alcançavam o solo e percebi que meus braços estavam esticados e presos em uma corda que me pendurava. Dor? (Risos) Já havia sentido de tantas formas que nada que pudessem me infligir poderia me fazer dobrar novamente.

(Um braço quebrado? Unhas arrancadas? Porra, eu queimei no inferno! E Hades me mandou de volta... Nada mais pode ocorrer que já não seja da vontade Dele. E eu sou uma de suas mãos aqui nesse reino que as pessoas chamam de mundo).

Seguindo o caminho dos olhos, verifiquei que finas estacas de madeira trespassavam os músculos das minhas pernas. E eram tantas que não me arrisquei a contar. Todas elas eram ligadas entre si por barbantes de cânhamo de, sei lá, cânhamo? Naquelas circunstâncias, não importava do que elas eram feitas.

Tentei me mexer. Descobri outra estaca enfiada na minha barriga. Nesse momento escutei uma voz:

- Você ainda tem algum tempo antes de morrer. Sabe porque está aqui?

Sem saber do que ele falava, arrisquei:

- Sim. Hades me mandou de volta do inferno para serví-lo.

- Então encontraste com a maior das divindades? – ele perguntou.

- Não preciso lhe responder nada. Tire-me logo daqui ou...

- Ou o quê, miserável? Seu cachorro imundo! Os abutres e os chacais da savana já estão próximos. Sentem o cheiro da sua morte. Nem mesmo os leões desejam sentir o gosto de sua carne pútrida. E você está preso, com estacas mágicas enfiadas por todo o corpo. Saia se puder. Se for mesmo um servo de Hades, saberá como.

A ira começou a se manifestar dentro de mim e, naquele momento, descobri que precisava mais do que apenas palavras para me libertar.